Em sua 1ª edição, o festival, com programação focada em conectar o público e artistas de diferentes gêneros, teve sua estreia marcada por chuva, ousadia e atitude punk rock.
Fotos: Leca Suzuki em cobertura para o site igormiranda.com.br
No último Domingo (02), o palco do Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, foi o cenário de apresentações marcantes que abriram a programação da 1° edição do Festival Índigo, evento idealizado pela produtora 30e. De acordo com a empresa, este é um projeto que nasce com o propósito de preencher uma lacuna no atual cenário musical, destacando artistas alternativos e oferecendo ao público uma experiência imersiva.
O line-up do festival reuniu, além de Weezer e Bloc Party, o explosivo grupo japonês de pós-punk Otoboke Beaver, a revelação do pop espanhol Judeline e os escoceses do Mogwai, conhecidos por suas longas composições instrumentais e pelas camadas de guitarras envolventes. Complementando a programação, as DJs Linda Green, Julia, Brenda Ramos e Sophia animaram o público com sets breves durante os intervalos de 35 minutos entre as apresentações principais.
A experiência de viver o Festival
Com a realização cada vez mais frequente de eventos na área externa do Auditório Ibirapuera, o público já chega ao local com uma certa familiaridade sobre o que esperar, independentemente da produtora responsável. Afinal, o parque, por si só, já oferece um cenário natural e inspirador que se tornou parte da identidade desses eventos.
Mas diferente dos eventos anteriores, marcados por dias ensolarados e clima agradável, o Dia de Finados, conhecido no Brasil por atrair nuvens e chuvas, trouxe um domingo típico da data: cinzento e úmido. Isso levantou uma questão inevitável entre o público: por que realizar o evento justamente nesse dia? No sábado anterior, por exemplo, o sol deu as caras, as temperaturas estavam amenas e o ambiente parecia ideal para um festival ao ar livre. É claro que o clima é imprevisível, mas muitos fãs consideraram previsível a possibilidade de chuva nesta data específica. Nas redes sociais, não faltaram comentários questionando por que a produtora não evitou uma data historicamente chuvosa.
Com a confirmação da chuva, a organização precisou se adaptar para garantir a segurança do público, dos funcionários, dos artistas e de toda a equipe envolvida. Tapumes foram colocados sobre o gramado nas áreas de pista comum e pista premium, além de um corredor improvisado que ligava as pistas à praça de alimentação. Ainda assim, o entorno ficou tomado por lama e poças d’água, o que dificultou a circulação. Para proteger os equipamentos, a produção também cobriu a mesa das DJs com uma capa plástica.
As primeiras apresentações do dia
O grupo japonês Otoboke Beaver fez sua aguardada estreia em solo brasileiro na sexta-feira (31), com um sideshow no Cine Joia. O Sonoridade Underground esteve presente, e você pode conferir a cobertura completa aqui.
Já no domingo, as meninas foram as responsáveis por abrir a programação de shows do Festival, enfrentando o momento mais chuvoso do dia, uma tarefa desafiadora, tanto por ser o início da tarde quanto pela intensidade da chuva naquele horário. Ainda assim, o quarteto mostrou o porquê de ser um nome selecionado para abrir o Festival. Marcada por roupas estampadas e melissas cor-de-rosa, o Otoboke Beaver trouxe um contraste cativante entre agressividade sonora e visual lúdico, conquistando o público mesmo sob a chuva.
Em seguida, a espanhola Judeline subiu ao palco com uma performance ousada e carregada de teatralidade, acompanhada por seu bailarino. A apresentação explorou uma estética sensual e provocante, priorizando a expressão corporal e a encenação, os elementos musicais ficaram praticamente em segundo plano, já que era claro que o objetivo era chocar e provocar reações do público.
Apesar da proposta conceitual, a recepção foi morna: o público se mostrou disperso e a conexão entre artista e público simplesmente não exsitiu. Mesmo com alguns poucos fãs espalhados pela pista, a performance destoou do tom geral do festival e, sobretudo, do clima de expectativa em torno da atração mais aguardada da noite: o Weezer.
Encerrando os shows da tarde, o Mogwai subiu ao palco às 17h30 para uma apresentação impecável, quase sensorial. Com um repertório majoritariamente instrumental, o grupo escocês proporcionou uma imersão sonora, em que cada detalhe técnico podia ser apreciado. Ao longo da performance, os integrantes trocaram de posições e instrumentos, o que trouxe dinamismo à apresentação.
Ainda assim, fica uma provocação quanto à ordem do line-up: a apresentação do Mogwai teria funcionado muito melhor se tivesse acontecido entre Bloc Party e Weezer, já sob a luz mais suave do entardecer ou da noite, criando o ambiente ideal para a atmosfera contemplativa que caracteriza o som da banda.
Bloc Party e Weezer
Finalmente, o rock alternativo mostrou sua força no palco do festival. Os britânicos do Bloc Party entregaram uma apresentação potente e envolvente. Com um setlist equilibrado, o grupo passeou por faixas marcantes de seus principais álbuns. Ainda assim, um ponto destoante marcou o show, o som excessivamente baixo, que comprometeu parte da experiência e se tornou, sem dúvida, o maior problema do dia.
Havia a expectativa de que o problema fosse resolvido para o show do Weezer, mas isso não aconteceu e a frustração do público foi evidente. Ao circular entre as duas pistas e até a área da praça de alimentação, onde a distância em relação ao palco não é tão grande, o som permanecia baixo e abafado, comprometendo a experiência. Apesar disso, o Weezer entregou uma grande apresentação. Ainda assim, essa falha técnica não passou despercebida: em um evento dessa magnitude, a qualidade do som é um elemento essencial, capaz de definir a experiência tanto para o público quanto para os próprios artistas no palco.
Vale ressaltar que o Weezer acabou carregando, de certa forma, a responsabilidade de “salvar” a noite, algo que, sinceramente, não deveria recair sobre os ombros da banda. Sim, o grupo entregou um show à altura das expectativas, com carisma, repertório impecável e uma energia contagiante que conseguiu reacender o ânimo do público que parecia estar bastante desanimado com esses problemas.
No entanto, a necessidade de “compensar” as falhas técnicas do evento, como o som baixo e a inconsistência na estrutura, expõe um problema recorrente em alguns festivais: a falta de atenção aos detalhes que realmente fazem diferença na experiência do público. O artista está ali para se conectar com o público e oferecer sua arte; cabe à produção garantir as condições ideais para que essa conexão aconteça em sua plenitude. Quando isso não ocorre, por melhor que seja a performance, fica a sensação de que algo escapou, de que o potencial daquela noite poderia ter sido ainda maior.
Weezer – Auditório do Ibirapuera – 02/11/2025
- My Name Is Jonas
- Dope Nose (com um snippet de “Troublemaker”)
- No One Else
- Perfect Situation
- Run, Raven, Run
- Hash Pipe
- Surf Wax America
- Undone – The Sweater Song
- Island in the Sun
- Holiday
- In the Garage
- Why Bother?
- You Gave Your Love to Me Softly
- Pink Triangle
- Beverly Hills
- I Just Threw Out the Love of My Dreams
- Pork and Beans
- El Scorcho
- The Good Life
ENCORE:
- Say It Ain’t So
- Buddy Holly

























































