The 69 Eyes: entre vampiros, amores sombrios e noites eternas

Crédito: Marek Sabogal

Com mais de três décadas de estrada, o The 69 Eyes consolidou-se como uma das bandas mais emblemáticas da Finlândia, atravessando fases, rótulos e modas sem perder sua identidade. Do hard rock encharcado de glam dos anos 90 ao batismo definitivo no goth’n’roll, o quinteto de Helsinque construiu uma discografia que respira a estética noturna dos vampiros, do cinema expressionista e da poesia decadente. Cada álbum revela uma faceta distinta de sua trajetória: da virada sombria em Blessed Be ao romantismo noir de Paris Kills, do vigor hard de Devils ao frescor contemporâneo de Death of Darkness. Revisitar esses discos é entender não apenas a evolução de uma banda, mas também como o gótico se reinventou no século XXI sem perder o apelo popular.

Blessed Be (2000)

Ponto de virada. “Blessed Be” cristaliza a metamorfose do The 69 Eyes do glam/hard noventista para o goth’n’roll cinematográfico: baixos de pulso hipnótico, guitarras com chorus/reverb e a voz grave de Jyrki guiando melodias de romantismo escuro. É onde a banda encontra uma persona coesa — elegante, noturna, vampírica — sem perder o gancho pop.
Temas e estética. Referências diretas a The Crow e ao mito do anti-herói urbano firmam a ponte com o cinema; o clima é de tragédia romântica e fetichismo noir.
Ouça de lupa: “Gothic Girl”, “Brandon Lee” e “The Chair” (com participação de Ville Valo) são o tripé que define o disco: refrões imediatos, arranjos econômicos e um senso de atmosfera que vira assinatura do grupo.

Paris Kills (2002)

Refinamento e atmosfera. Se “Blessed Be” é a descoberta do som, “Paris Kills” é o polimento: produção mais sedosa, beats com andamento de slow dance e guitarras que brilham por sutileza. O resultado é um gótico romântico, de luzes de néon refletidas em asfalto molhado.
Letra e imaginário. A banda escreve como flâneurs da madrugada — decadência chic, amores condenados, hedonismo e melancolia.
Ouça de lupa: “Dance d’Amour” (single de entrada), “Betty Blue” e “Still Waters Run Deep” sintetizam o charme fatal do álbum e seu apelo para além da cena gótica.

Devils (2004)

Expansão e músculo. “Devils” injeta testosterona na fórmula: riffs mais diretos, refrões pensados para arenas e um empurrão de hard rock sem trocar a penumbra pelo sol. É o álbum que amplia o raio de alcance, com ganchos que funcionam tanto no clube quanto no palco grande.
Narrativas urbanas. Letras orbitam mitologias modernas — cidades, cinema, personagens notívagos — com humor sombrio.
Ouça “Devils”, “Lost Boys” e “Feel Berlin” mostram a banda em máxima eficiência radiofônica; “Sister of Charity” e “Beneath the Blue” dão a camada de romantismo grave.

Angels (2007)

Contraponto luminoso. Pensado como “irmão” de Devils, “Angels” suaviza as bordas sem diluir a identidade. A produção é ar-arejada; os arranjos abrem espaço para melodias que flertam com o AOR melancólico e um brilho quase californiano — o lado lounge noir dos vampiros de Helsinque.
Temas. Esperança e redenção aparecem filtradas por um romantismo desencantado; ainda é noite, mas com letreiros acesos.
Ouça: “Perfect Skin” (single), “Never Say Die” e “Los Angeles”. São o coração pop do disco e as portas de entrada para novos ouvintes.

Back in Blood (2009)

Volta às sombras — com lâminas. Depois do brilho de Angels, “Back in Blood” mergulha em um revamp sanguíneo: guitarras mais serrilhadas, bateria seca e um humor B-movie assumido. É o álbum mais “pulsações por minuto” desde o início dos 2000.
Som e intenção. A produção (Matt Hyde) enfatiza impacto e clareza — tudo bate forte e na cara, sem perder o verniz dark. Letras celebram abertamente o vampirismo como metáfora de desejo e excessos.
Ouça “Dead Girls Are Easy”, “We Own the Night” e a faixa-título levam o espírito grindhouse para a pista.

X (2012)

Decantação e síntese. No décimo registro, o The 69 Eyes aposta em composição econômica e refrões de alto sing-along. O clima é de banda veterana que sabe onde cada peça vai — menos ornamento, mais canção.
Paleta ampla. Do goth rock ao alternative com lampejos Americana, é um disco de texturas que convidam o ouvinte “de fora” do gótico.
Ouça de lupa: “Red” (single de abertura), “Borderline” (balada crepuscular) e “Love Runs Away”. Bônus interessante: “Rosary Blue”, com participação de Kat Von D, amplia o jogo de timbres

Universal Monsters (2016)

Elegância crepuscular. Com referências a monstros clássicos e cinema de era dourada, o álbum reacende o fetichismo cinematográfico do grupo com arranjos luxuosos e uma cadência mid-tempo irresistível. É o The 69 Eyes mais “iconeográfico”.
Canção acima do conceito. Apesar do concept visual forte, o disco vive de melodias que grudam e guitarras que desenham a névoa — coesão que lembra o auge do início dos anos 2000.
Ouça: “Jet Fighter Plane” (abre alas), “Dolce Vita” e “Jerusalem” compondo um arco de energia, hedonismo e misticismo urbano.

West End (2019)

Hedonismo em ruínas. O título acena para um mundo no “ocaso glam”: riffs cortantes, batidas marchantes e refrões que soam como slogans para noites derradeiras. O disco equilibra peso e teatralidade, mirando os palcos de festival.
Colaborações e musculatura. Convidados como Dani Filth, Wednesday 13 e Calico Cooper adicionam veneno e cor, sublinhando o lado horror rock sem descaracterizar a banda.
Ouça: “Two Horns Up”, “27 & Done” e “Cheyenna”, três momentos de alto impacto que condensam a proposta do álbum.

Death of Darkness (2023)

Crepúsculo contemporâneo. O The 69 Eyes atravessa 2023 com um disco que conversa com sua história sem soar pastiche: mid-tempos melancólicos, refrões cantáveis e letras sobre amores e fantasmas do agora.
Textura e contraste. As faixas equilibram romantismo gótico e highway rock (dirigível, luminosa, mas com sombra). A parceria com Kat Von D em “This Murder Takes Two” adiciona um dueto noir que expande o espectro dramático do álbum.
Ouça “Death of Darkness”, “Drive” e “This Murder Takes Two (feat. Kat Von D)” compõem a tríade que guia o clima e a narrativa do disco.

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