Foto: Violeta Juras
O coral croata Metaklapa, famoso por fazer versões do Iron Maiden em estilo folclórico da Croácia, a capella, vem ao Brasil em Julho apresentar, em cinco cidades diferentes, seu show à luz de velas. Para a ocasião, o tenor Davor Capkovic nos concedeu entrevista exclusiva falando sobre o projeto e o futuro. Confira:
Fernando Queiroz: Fazer músicas do Iron Maiden nesse formato, em Klapa é algo ousado e difícil, algumas pessoas com certeza diria até que seria impossível, mas vocês fizeram mesmo assim. Poderia contar um pouco do como esse projeto veio a surgir?
Davor Capkovic: Bom, primeiramente, é bom explicar que o canto de Klapa é uma música tradicional folclórica croata, particularmente do sul da Croácia, na Dalmácia, mas da Croácia no geral, pois não é um país grande. Interessante dizer que em 2013, foi considerada patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO, por isso tem uma reputação internacional, mas não deixa de ser algo folclórico local, da Croácia propriamente. Klapa não é como a maioria das músicas folclóricas tradicionais, que hoje são, por assim dizer, peças de museu, onde você pega uma interpretação do que era, e tenta se manter nesse estilo. A maior parte das músicas tradicionais do norte da Croácia são assim — tentam recriar o que era, ou como se acha que era de fato. Já Klapa é diferente, pois sempre evolui. Tem músicas antigas do gênero que ainda são tocadas, mas também evoluiu para algo diferente, tem uma cena muito vívida de Klapa, que constantemente se renova. Muitos grupos novos sempre se formam e fazem músicas novas do estilo, feitas a capella e no dialeto tradicional da Dalmácia. Por isso, muitas vezes os artistas de Klapa vão para rumos desconhecidos, geralmente para músicas pop croatas, e isso é bem possível pois é um estilo de música bem reto e direto, com geralmente quatro vocais — tem os baixos e os tenores. Então dá para fazer praticamente tudo com isso, mas ninguém tinha ido ainda para esse lado, pois tendem a manter a coisa estritamente na música croata em termos de idioma, especialmente. Mas nós, como além de fãs de Klapa, também somos fãs de metal. Aqui as pessoas cantam Klapa o tempo todo, onde quer que você for. Como nós sempre fomos amigos, estamos sempre juntos, até meu tio está na banda, tem meu cunhado também — e Klapa é isso, literalmente significa um grupo de amigos —, quando começamos, cantávamos algumas músicas do Iron Maiden aqui e ali juntos nesse estilo, e pensamos “talvez dê para tirar alguma coisa disso”, e quem nos incentivou mesmo a começar foi o vocalista da banda de folk metal Manntra, aqui da Croácia. Gravamos algumas coisas de Klapa tradicional no estúdio dele, e aí conversando, ele nos sugeriu essa ideia, que foi quando fizemos a “Fear of the Dark”, a primeira desse projeto. A partir daí, fomos escolhendo músicas aqui, ali, fizemos arranjos, que geralmente eu que faço. Mas não fizemos com a intenção de que realmente se tornasse algo, só queríamos nos divertir, mas deu certo! Deu tudo muito certo… quero dizer, estou sendo entrevistado por um cara do Brasil sobre Klapa! (risos)
Fernando: O Iron Maiden tem muitas músicas mais pesadas, outras mais leves, até baladas. para vocês, o que é mais difícil adaptar, as leves, lentas, ou as pesadas e rápidas?
Davor: Depende! Depende muito da música. Por exemplo, “Aces High”, uma música relativamente rápida, e ela é sempre com o Bruce bombardeando sílabas, o que é muito rítmico por si só. Nessa música não se apoia apenas no baixo ou bateria para o ritmo, então quando adaptamos, fazemos de um jeito que todos na voz dão o pulso, então quando você consegue esse pulso, dá para adaptar o tempo — pode ser um pouco mais rápido, um pouco mais devagar, mas o pulso é sempre o mesmo. Então às vezes tomamos algumas liberdades, por exemplo, na “Caught Somewhere in Time”, que tem muito galope no baixo, nós fizemos completamente diferente, tornamos ela uma música lenta. Foi a que deixamos mais “Klapa”, na verdade, a que usou mais elementos de Klapa tradicional na adaptação, especialmente em termos de sílabas longas e curtas. Então ficou totalmente diferente, e é isso que quisemos fazer com todas, não apenas um cover. Quisemos fazer de um jeito que ficasse totalmente Klapa, mas que as pessoas ainda reconhecessem como aquela música, com a mesma energia e mensagem. Então, bom, escolhemos músicas rápidas, fazemos pensando na interpretação lírica do Iron Maiden, e sempre cito a “Aces High” por isso, ele interpreta basicamente da mesma forma que a guitarra está fazendo, e quando vê a letra, que está seguindo da mesma forma, você tem essa mensagem.
Fernando: Claro que a fase de Bruce Dickinson na banda é a mais famosa e bem sucedida, mas há ótimas músicas com os dois outros vocalistas. vocês pretendem também tocar músicas de Paul Di’anno e Blaze Bayley?
Davor: Bom, sempre temos ideias sobre o que fazer, mas nunca decidimos exatamente sobre algo fixo, tipo “é isso”, mas o nosso primeiro álbum tem dez músicas, e fizemos umas a mais, então nosso repertório tem cerca de quinze músicas, e por enquanto são músicas do Bruce, que é um dos melhores vocalistas do mundo. Tem mais algumas músicas dele nas quais estamos trabalhando, e em algum momento algumas músicas do Blaze e do Paul entrarão no nosso radar. Mas também já fizemos algumas outras bandas, como o System of a Down, e fizemos a “Tears of the Dragon” do Bruce, que é muito icônica, e que se encaixa muito no nosso estilo de Klapa.
Fernando: Fora Iron Maiden, quais outras bandas vocês gostariam de fazer versões? Judas Priest, ou Manowar, talvez?
Davor: Manowar seria muito legal! Por ser power metal, tem similaridades com o Iron Maiden. Mas não sei ainda se escolheríamos uma banda, nós faríamos uma mistura. Fizemos o Iron Maiden porque a estrutura, as melodias, foi algo que veio muito natural para nós, foi fácil fazer em estilo Klapa. Sempre que ouço, penso que posso fazer dessa forma. Já outras bandas, não sei… ouço o Metallica, que é a maior banda do mundo, e consigo escolher três músicas da discografia inteira que sei que iriam funcionar assim, e que pretendemos fazer — não posso falar quais, mas vamos fazer. Por isso, vamos escolher a dedo algumas de outras bandas, como por exemplo, já citei o System of a Down, e nós fizemos uma versão do Motorhead recentemente, a “Love Me Forever”. Aliás, se você olhar a discografia toda do deles, essa é a única música que faz sentido fazer no nosso estilo, que no fim ficou muito boa, na minha opinião. E na minha preferência pessoal, gostaria de fazer do Dream Theater, que é minha outra banda favorita, e tem umas duas músicas deles que já estou vendo de fazer em estilo Klapa. Tem algumas músicas deles com muitos coros que ficariam legais, mas a voz do James LaBrie, especialmente ele jovem, é muito difícil de replicar.
Fernando: Há planos no futuro de lançarem material ao vivo oficial em vídeo, como um DVD, por exemplo?
Davor: Na verdade, já gravamos, mas é com uma boa diferença. Em Maio, fizemos um show em Zagreb, com a Orquestra Filarmônica de Zagreb. Um amigo nosso fez as orquestrações, fizemos a apresentação no Zagreb Hall, e gravamos. Daí fizemos um acordo com a orquestra para podermos lançar algumas músicas, então já começamos a escolher quais, trabalhar em cima delas. Não temos a data ainda de lançamento, mas muito em breve estará disponível para todos verem e ouvirem, pois é algo bem diferente do que fazemos, do que o Iron Maiden faz. Ficou bem diferente, bem curioso, e na minha opinião, muito bom!