Esta foi a terceira passagem da banda pelo Brasil com a nova formação — e também uma noite que confirmou: a banda está mais viva do que nunca.
Fotos por Gustavo Diakov (@xchicanox) em cobertura para igormiranda.com.br, gentilmente cedidas
Na última quinta-feira (22), o Stone Temple Pilots subiu ao palco do Terra SP para um show eletrizante que integrou parte da turnê sul-americana celebrando a nova fase da banda. Produzido pela Rider2br, Stones Music Bar e Numb Brasil Produções, o show marcou o retorno do grupo à capital paulista e reuniu fãs de diferentes gerações para uma noite de celebração ao rock noventista. Além de São Paulo, o STP (como é conhecido) também passou por Brasília, onde foi uma das principais atrações do Porão do Rock Festival, reforçando sua conexão com o público brasileiro. A turnê pelo país serviu como uma potente demonstração de que a banda, agora com Jeff Gutt nos vocais, segue firme, relevante e carregando a mesma intensidade que a consagrou como um dos ícones do grunge.
Se você é fã — ou mesmo que não seja — do grunge ou do rock dos anos noventa, provavelmente já confundiu, em algum momento, a voz de Eddie Vedder, do Pearl Jam, com a de Scott Weiland, ex-vocalista e co-fundador do Stone Temple Pilots. Isso porque ambas as bandas despontaram na mesma época, dentro de um cenário musical bastante parecido, marcado por riffs pesados, letras introspectivas e vozes profundas e marcantes. Além da proximidade temporal e estética, é inegável o quanto os timbres de Vedder e Weiland possuem semelhanças notáveis — vocais carregados de emoção, com um tom grave e rouco que se tornaram a assinatura de uma geração.
E agora, com Jeff Gutt nos vocais, as comparações continuam — e não sem motivo. Gutt, que assumiu o posto após o falecimento de Chester Bennington (o qual, por sua vez, havia substituído Scott Weiland), também carrega um timbre vocal que remete fortemente aos seus antecessores. Sua voz, marcada por potência e emoção, mantém a identidade sonora do Stone Temple Pilots viva e reconhecível. Apesar de algumas comparações negativas feitas por uma minoria de fãs mais puristas, Gutt tem provado, show após show, que pertence de fato à história da banda. Sua entrega no palco e respeito ao legado do grupo mostram que ele não apenas ocupa o microfone — mas também honra com autenticidade e merecimento.
Velvet Chains:
Formada em 2018, em Las Vegas, a banda Velvet Chains — composta por Chaz Terra (vocal), Von Boldt e Phillip Paulsen (guitarras), Nils Goldschmidt (baixo) e Jason Hope (bateria) — foi responsável por abrir a noite. Em um set enxuto, porém enérgico, o grupo apresentou treze músicas em menos de uma hora, enquanto o público ainda chegava ao local aguardando a atração principal. Apesar da recepção inicialmente tímida, a banda cumpriu bem o papel de aquecer o ambiente e aproveitou a oportunidade para mostrar a força do seu repertório, com destaque para as faixas dos EPs Morbid Dreams (2022) e Last Rites (2025), deixando clara sua proposta sonora e atitude no palco.
Velvet Chains – Terra SP – 22/05/2025
- Wasted
- Back on the Train
- Fade Away
- Eyes Closed
- Enemy
- Run Away
- Stuck Against the Wall
- Last Drop
- Suspicious Minds (cover Elvis Presley)
- I Am the Ocean
- Ghost in the Shell
- Dead Inside
- Tattooed
Stone Temple Pilots
O show, marcado para às 21h30, começou alguns minutos antes do previsto. Com os setores cheios — embora não completamente lotados — o público, majoritariamente composto por pessoas na faixa dos 30 aos 40 anos, tentava encontrar o melhor ponto possível para ao menos conseguir enxergar o palco. A missão, no entanto, não era simples: o Terra SP, apesar de ser uma casa de shows moderna e bem localizada, conta com três colunas centrais em sua estrutura que comprometem a visibilidade de praticamente todos os setores, inclusive da pista premium.
Essa é uma crítica recorrente ao espaço, assim como a constante dificuldade de acesso à internet durante os eventos. Mas, naquela noite em especial, um detalhe adicional comprometeu ainda mais a experiência do público: a iluminação da casa. Em diversos momentos do show, especialmente quando Jeff Gutt se aproximava das laterais do palco ou se jogava entre os fãs, era difícil localizá-lo — o vocalista acabava “sumindo” em meio à penumbra, envolto por uma luz azul fraca e as sombras projetadas pelas vigas do local.
Mesmo com os obstáculos que estavam fora do controle da banda — e que merecem ser mencionados — o Stone Temple Pilots entregou uma apresentação impecável, digna da expectativa dos fãs. A noite começou com “Unglued”, dando o tom da intensidade que viria pela frente. Logo em seguida, vieram “Wicked Garden” e “Vasoline”, formando uma tríade de abertura poderosa que deixou claro: o setlist daquela noite seria carregado de peso, energia e clássicos que marcaram uma geração.
Ainda durante “Vasoline”, Jeff Gutt saúda a plateia com um entusiasmado “E aí, São Paulo!”, arrancando gritos e aplausos do público, que já demonstrava total entrega à energia da banda. É logo na sequência, antes do início de “Big Bang Baby”, que se ouve, em coro, o público entoando “STP, STP” — a abreviação carinhosa de Stone Temple Pilots que ecoou por todo o Terra SP. Esse grito coletivo se repetiria diversas vezes ao longo da noite, funcionando como uma troca intensa entre banda e plateia, como se cada música fosse seguida por uma confirmação espontânea do quanto o grupo ainda é querido e relevante. Gutt, por sua vez, respondia com sorrisos, gestos e aproximações constantes ao público, reforçando a conexão genuína construída ao longo do show.
É durante “Still Remains” — a delicada balada do aclamado álbum Purple (1994), composta por Scott Weiland e Robert DeLeo — que Jeff Gutt presta uma homenagem emocionante ao ex-vocalista, dedicando a canção à sua memória. A faixa, conhecida por sua suavidade melódica e letra sensível, traz um tom romântico que contrasta com o peso de outras músicas do mesmo disco, e no show, se transformou em um dos momentos mais tocantes da noite. Com as luzes mais baixas e a atmosfera envolvente, o público respondeu erguendo os celulares para registrar o momento, como uma espécie de reverência silenciosa.
Enquanto isso, Robert DeLeo (baixo) aproveitou o clima de conexão para interagir com os fãs, distribuindo palhetas e tornando a experiência ainda mais íntima e inesquecível. É também nesse intervalo, logo antes da belíssima “Big Empty”, que DeLeo interage com o público pela primeira vez com um caloroso cumprimento: “Olá, Brasil! Thank you for being here” (“Obrigado por estarem aqui”).
É nesse momento que a banda faz uma breve retirada do palco, deixando apenas Dean e Robert DeLeo em cena para um solo intimista, que prepara o terreno para o que viria a seguir. Aos poucos, os outros integrantes vão retornando, primeiro Eric Kretz assume a bateria e por fim, Jeff Gutt reaparece, interagindo com o público por meio de gestos e chamando todos de volta à atenção.
Assim que a formação se completa novamente e os primeiros acordes de “Big Empty” ecoam pelo Terra SP, a plateia explode em aplausos e gritos entusiasmados — o reconhecimento da faixa é imediato e emocionante. A performance marca o início de uma sequência poderosa, quase catártica, que exigiria energia tanto da banda quanto dos fãs. Era só o começo da reta final do show, e uma coisa era certa: todos ali ainda teriam de recuperar o fôlego para o que estava por vir.
“Plush”, um dos maiores sucessos do Stone Temple Pilots e, sem dúvida, uma das faixas mais aguardadas da noite, foi executada com uma precisão e emoção tão intensas que beiram a perfeição — e não há exagero algum nisso. Raramente tomo partido de forma tão enfática, mas neste caso, é impossível não reconhecer a força do momento.
Cada elemento se encaixou de forma impecável: a banda em total sintonia, os acordes marcantes, a entrega do público, a interpretação poderosa de Jeff Gutt e até os detalhes mais sutis — como o instante em que um fã lhe entrega uma rosa, e Gutt canta boa parte da música segurando a flor, adicionando ainda mais poesia à cena.
Foi um trecho do show que transbordou beleza e emoção, e que certamente ficará gravado na memória de quem estava presente. Teve também a aproximação de Gutt com os fãs colados na grade da pista premium e um momento descontraído em que ele, com bom humor, pede um shot de tequila ao bar, arrancando risos e aplausos da plateia. Um equilíbrio perfeito entre intensidade, afeto e leveza.
Na sequência, em um verdadeiro bloco de “só pedrada”, a banda emendou três clássicos de peso: “Interstate Love Song”, “Crackerman” e “Dead & Bloated”. Esta última, com sua energia crua e presença marcante, foi consagrada com um irreverente “cheers” (“um brinde”) de Jeff Gutt no exato momento em que o aguardado shot de tequila chegou ao palco — um brinde que combinou perfeitamente com a vibração intensa da performance e arrancou aplausos calorosos da plateia.
“Trippin’ on a Hole in a Paper Heart”, faixa que simboliza a fase mais experimental e ousada do Stone Temple Pilots, brilhou no setlist com seu riff de guitarra marcante, ritmo acelerado e a interpretação intensa de Jeff Gutt — que, mais uma vez, impressionou pela semelhança vocal com Scott Weiland. Em diversos momentos, era fácil confundir as vozes, tamanha a fidelidade e entrega de Gutt à essência da música. Diante de uma performance tão poderosa e autêntica, é difícil entender como alguns fãs mais puristas — aqueles mesmos mencionados no início deste texto — ainda insistem em acusar a banda de ter se tornado apenas um cover de si mesma. O que se viu no palco foi exatamente o contrário: uma banda viva, pulsante e absolutamente conectada com sua história.
Parecia ser o fim da apresentação quando a banda deixou o palco, mas o clima no Terra SP ainda pedia mais — e havia espaço para mais. Como já era esperado, o Stone Temple Pilots retornou para o tradicional encore, trazendo mais três músicas para encerrar a noite com chave de ouro. Nesse momento de expectativa, enquanto os músicos reassumiam seus lugares, o público começou a clamar insistentemente por “Creep” — uma das faixas mais queridas do repertório, mas que não vinha sendo incluída nas últimas apresentações da banda.
Os pedidos foram altos, frequentes e emocionados, mas, apesar de claramente escutá-los, a banda optou por seguir com o setlist planejado. Foi possível notar a frustração de alguns fãs, como um rapaz que me abordou nesse intervalo perguntando: “Você acha que eles vão tocar ‘Creep’?” Respondi que provavelmente não, com base nos shows anteriores — e infelizmente, estava certa. Teria sido uma surpresa e tanto, quase um presente inesperado. Uma pena que não veio. Ainda assim, é impossível dizer que isso diminuiu o brilho da noite. O show foi tão intenso e bem executado que seguiu inesquecível, mesmo sem aquele pedido especial atendido.
Para o retorno ao palco, o Stone Temple Pilots escolheu “Kitchenware & Candybars” — uma decisão que, honestamente, quebrou por completo o clima de euforia deixado pela saída triunfante com “Trippin’ on a Hole in a Paper Heart”. A mudança abrupta de energia criou um contraste evidente. Ainda assim, foi justamente nesse momento mais calmo e introspectivo que boa parte do público aproveitou para erguer os celulares e registrar a apresentação. Talvez a atmosfera desacelerada, quase contemplativa, tenha se mostrado perfeita para eternizar em vídeo ou foto uma noite tão marcante. Uma pausa emocional no meio da intensidade, que, mesmo destoando do ritmo anterior, acabou criando um novo tipo de conexão com quem estava ali.
E, por fim, “Piece of Pie” e “Sex Type Thing” encerram definitivamente a noite com dois clássicos que colocaram ponto final em uma apresentação impecável, grandiosa e cheia de energia. Seja para quem estava vendo a banda ao vivo pela primeira vez, seja para os que já haviam presenciado a era Weiland ou mesmo a performance com Jeff Gutt em 2023, no Summer Breeze ou em 2019 em show conjunto com o Bush, o sentimento era unânime: que show arrebatador! Uma noite que reafirmou a força atemporal do STP e sua capacidade de emocionar e incendiar plateias, independentemente da fase.
Stone Temple Pilots – Terra SP – 22/05/2025
- Unglued
- Wicked Garden
- Vasoline
- Big Bang Baby
- Down
- Silvergun Superman
- Meatplow
- Still Remains
- Big Empty
- Plush
- Interstate Love Song
- Crackerman
- Dead & Bloated
- Trippin’ on a Hole in a Paper
ENCORE:
- Kitchenware & Candybars
- Piece of Pie
- Sex Type Thing