O festival celebrou os 25 anos da produtora com lineup de peso
Texto por Mateus Marcatto (@marcatto_7) e Fotos por Tamira Cristine (@tamira.ferreira)
Em pleno feriado de aniversário da cidade de São Paulo, a produtora Dark Dimensions realizou um dos primeiros festivais de metal do ano no último sábado, 25 de janeiro. O evento contou com seis bandas de estilos variados de metal, dentre elas a banda Nervosa, Torture Squad, Elm Street, Eskröta, Throw Me To The Wolves e The Damnation.
O Carioca Club abriu as portas às 14h, relativamente cedo, pois a primeira banda tocaria pouco tempo depois, e por mais cedo que fosse, já havia fãs do lado de fora e algumas pessoas entrando na casa. Havia pouco mais de cem pessoas no interior do pico, que transitavam nas bancas de merch das bandas ao fundo da pista, além de um stand de flash tattoo e uma lojinha de adereços.
THE DAMNATION
Às 14h30, o trio feminino The Damnation entra em cena e, de cara, podemos perceber que o layout do palco seria o mesmo para todas as bandas. Um ponto positivo, pois, geralmente, quem faz a abertura nos shows tocam com uma bateria montada no canto do palco, em um espaço reduzido. A vocalista e guitarrista Renata Petrelli dá as boas-vindas ao público e inicia tocando “Parasite”, do EP homônimo de 2020. A banda mistura thrash metal e stoner em músicas como “World’s Curse” e uma nítida influência do estilo do Testament em “Grief Of Death”. “Unholy Soldiers” dá a deixa para a baixista Fernanda Lessa, seguida pelas batidas tribais da baterista Leonora Molka, que também faz backings vocals pontuais na música. Os primeiros mosh pits do evento se fizeram com o agito da banda, que entregou uma apresentação esforçada e conseguiu aquecer o público para o restante do evento.
Setlist
Parasite
Worlds Curse
Grief Of Death
This Pain Wont Left
Way Of Perdition
Unholy Soldiers
Slaves Of Society
Apocalypse
THROW ME TO THE WOLVES
A casa se encontrava um pouco mais cheia enquanto o Throw Me To The Wolves passava o som de cortinas fechadas. Formada por músicos experientes, a banda possui uma grande influência de death metal melódico, já abrindo o show de bandas como Killswitch Engage, Carcass, Batushka e Infected Rain. A música “Chaos” abriu o set de forma explosiva e agressiva, com duetos de guitarra e solos cheios de emoção, seguindo um ritmo constante e sem mudanças de tempo exageradas. A segunda música, “Tartarus”, abre com um refrão cativante – quem conhece a mitologia grega, já pegou as referências nas letras, combinando riffs cheios de groove e harmonia.
O vocalista Diogo Nunes agradeceu ao público e anunciou a próxima música, que leva o título do álbum de estreia, Days Of Retribuition, que será lançado em breve. Os solos dos guitarristas Gui Calegari e Lucas Unleash unem musicalidade e técnica, suportados pela percussividade da “cozinha”, que dispõe do baixista Rodrigo Gagliardi e o baterista Maycon Phantoms.
Antes de tocarem a última música, o frontman apresentou a banda de forma bem humorada e agradeceu ao público, encerrando o show com a faixa “Gaia”, terminando assim uma aula de metal veloz.
Setlist
Chaos
Tartarus
Days Of Retribution
Gates Of Oblivion
Fragments
An Hour Of Wolves
Gaia
ESKRÖTA
Chegou a vez da banda Eskröta, que subiria ao palco às 16h20. O trio paulistano toca um crossover thrash com letras politizadas que abordam principalmente o antifascismo e o feminismo. “Grita” começa cheia de agressividade sonora, destacando a divisão dos vocais que Yasmin e Tamy fazem em várias músicas, criando um complemento em cada estrofe sem deixar margem para partes vazias.
“Não entre em Pânico” conta com a participação da própria ghostface no palco, que depois foi para a pista agitar o mosh com os fãs engajados. O show da banda criou um ambiente respeitoso para as mulheres participarem em peso da roda em “Mosh Feminista”. O tema de filmes de terror é explorado novamente em “FIlha do Satanás”, uma referência ao filme “Carrie, A Estranha”, que mostra um instrumental de peso com influência de death metal old school.
Ao final, a vocalista chamou uma última roda para a música “Mulheres”, que tem cerca de 30 segundos de duração, mas para compensar, tocaram uma segunda vez com a velocidade dobrada, encerrando o show de maneira devida.
Setlist
Grita
Playbosta
Cena tóxica
Episiotomia
Não entre em pânico/ Exorcist
Homem é assim mesmo
Mosh Feminista
Eticamente questionável
Instagramável
Filha do Satanás
Massacre
Mulheres
ELM STREET
Às 17:26h, subiram no palco os australianos da Elm Street, sendo o primeiro show da turnê latina junto com a Nervosa. Começaram apresentando a música “A State Of Fear”, destacando o estilo tradicional de heavy metal, cheio de riffs e solos mirabolantes, unidos à presença de palco cativante, que rendeu uma resposta positiva do público curioso. O timbre de voz potente e peculiar do sorridente frontman Ben Batres, não falhou em nenhum momento, assim como as notas graves do baixista Nick Ivkovic, que ia de um lado pro outro e interagia com o público. “Elm St’s Childrem” soa como um daqueles clássicos hits de metal oitentista, cheio de backing vocals e melodias de guitarra.
Apesar de serem a banda mais “leve” do evento, conseguiram provocar os bate-cabeças e até mesmo mosh pits durante a apresentação. Fizeram uma versão bem tocada de “Running Free”, do Iron Maiden, que rapidamente fez o público cantar alto e pular dentro do mosh. Rumo a última música, “Metal Is The Way”, que é dedicada ao ícone Ronnie James Dio, a banda surpreendeu o público novamente com a energia e emoção na interpretação do vocalista.
Certamente uma banda que não deveu nada na apresentação e conseguiu a simpatia de possíveis novos fãs.
Setlist
A State Of Fear
Face the Reaper
Heart Racer
Elm St’s Children
Take The Night
The Last Judgement
Behind The Eyes Of Evil
Running Free
Barbed Wire Metal
Heavy Metal Power
Metal is the Way
TORTURE SQUAD
Às 16h55, começa a tocar a introdução de “Hell Is Coming” , que vem sendo a faixa de abertura dos shows e do álbum “Devilish” (2023), seguindo direto com a progressiva “Flukeman” e a energética “Buried Alive”. O som equilibrado dos instrumentos soava impecável nos PAs. A música “Abduction Was The Case” foi dedicada ao ex-guitarrista e fundador da banda, Cristiano Fusco, que faleceu no dia 16 de janeiro devido a um câncer. O baterista Amílcar Cristófaro fez um solo frenético e pesado que emenda com o groove que inicia “Raise Your Horns”, um dos hits mais queridos do TS. Depois de “Murder Of A God” , a vocalista May Puertas chamou ao palco Leather Leone, cantora americana conhecida pela sua carreira com o Chastain e que já fez shows e parcerias com a banda no ano passado.
Pull The Trigger e a clássica “Horror and Torture” potencializaram os bate-cabeça e moshs, exibindo um entrosamento instrumental impecável. Por fim, “The Unholy Spell” encerrou com grande energia o potente show do esquadrão, arrancando aplausos e gritos do público. Amílcar agradeceu os fãs e novamente dedicou o show em memória de Cristiano Fusco. “O Torture não estaria aqui se não fosse por ele”.
Setlist
Hell Is Coming
Flukeman
Buried Alive
Abduction Was The Case
Raise Your Horns
Murder Of A God
Warrior
Pull The Trigger
Horror and Torture
Unholy Spell
NERVOSA
Enfim, chegou a hora mais aguardada. A casa já estava cheia, e o público estava ansioso pelo headliner da noite. A trilha de introdução de “Seed Of Death” começou a tocar e arrancou os gritos da plateia. Assim que as cortinas se abriram, as garotas entram em cena. “Death!” e “Kill The Silence” foram os combustíveis para os mosh pits e bate-cabeças intensos, junto ao coro de fãs cantando. Falando nisso, não é novidade que os vocais da Prika Amaral se encaixaram bem não só nas músicas novas, mas também nas antigas, como “Venomous”, considerando que a banda já teve duas vocalistas com estilos distintos anteriormente.
Nessa turnê, a musicista holandesa Emmelie Herwegh foi escalada para substituir a baixista Hel Pyre, que não pode seguir a turnê para assumir responsabilidades maternas. Já nas baquetas, a baterista brasileira Gabriela Abud (que ainda não completou um ano na banda) mostrou toda sua garra e habilidade em sua performance, sendo ovacionada pelos fãs nos intervalos de cada música. A grega Helena Kotina, que entrou previamente como baixista substituta, agora assume a maioria dos solos na guitarra de maneira excepcional. Todo esse entrosamento agregou ainda mais para uma evolução de sonoridade e performance da Nervosa.
PARTICIPAÇÕES INÉDITAS E MÚSICAS NUNCA TOCADAS FORAM O DIFERENCIAL
A vocalista então anunciou a primeira surpresa da noite, convidando ao palco o vocalista e baixista do Krisiun, Alex Camargo, para cantar “Ungrateful”. Alex parecia meio deslocado e perdido nas partes que cantava, talvez pelo fato de não estar acostumado a fazer esse tipo de participação ao vivo. Após tocarem“Kill or Die”, Prika abre mão da guitarra e chama ao palco May Puertas e Yasmin Amaral para cantar “Cultura do Estupro”, música lado B do álbum “Downfall of Mankind”, tocada pela primeira vez ao vivo. A veloz “Into Moshpit” instigou o que já era de se esperar, num ritmo frenético. A música seguinte, “Jailbreak” , canção homônima do último álbum lançado, mostrou uma evolução de sonoridade.
Aproximando-se do fim do show, a banda é apresentada pela líder, e outra canção inédita é tocada brevemente: “Wayfarer”, na qual Prika arrisca vocais limpos em uma vibe mais rock n’ roll. Em uma pausa, a banda novamente agradece o calor e o carinho do público, encerrando o show com “Guided by Evil” e “Endless Ambition”, finalizando aquele que foi o set mais longo da história da banda, gravado para um lançamento futuro em celebração aos 15 anos do grupo.
Setlist
Seed of Death
Behind the Wall
Death!
Nail the Coffin
Kill the Silence
Perpetual Chaos
Venomous
Ungrateful
Masked Betrayer
Under Ruins
Hostages
Uranio em Nós
Kill or Die
Cultura do Estupro
Into Moshpit
Jailbreak
Wayfarer
Guided by Evil
Endless Ambition
EVENTO HISTÓRICO QUE MARCA O PROTAGONISMO FEMININO NO METAL BRASILEIRO
Ao final do show, as integrantes da Nervosa permaneceram na beira do palco para atender os fãs com autógrafos e fotos – um gesto de gratidão àqueles que se dedicaram às oito horas de evento. Foi uma celebração do metal e suas vertentes, marcada pelo protagonismo pujante das mulheres na cena, seja no palco, no público, na produção ou na imprensa.