Glenn Hughes: uma noite dedicada ao passado, presente e legado do rock

Texto por Jéssica Tahnee (@jessvlntm) e Fotos por Natalia Eidt (@natty.eidt)

Electric Gypsy aquece o público com energia e identidade

Responsáveis pela abertura da noite, os mineiros da Electric Gypsy, já conhecidos na cena brasileira e em ascensão, subiram ao palco às 19h30 conforme previsto. Com um som que remete ao Aerosmith clássico, Bad Company, Whitesnake, entre outros, misturando hard rock e rock and roll setentista, a banda conquistou o público desde o início. O espaço já estava cerca de 70% cheio e a resposta foi imediata.

O entrosamento entre os músicos é evidente e funciona muito bem ao vivo, com destaque para o guitarrista Nolas, técnico e enérgico. Com o perdão do trocadilho, a banda entregou um show eletrizante e faz jus à atenção que vem recebendo. É uma recomendação certeira para fãs do “rock antigo” que ainda relutam em conhecer novidades. A Electric Gypsy utiliza bem suas referências sem soar derivativa; tem personalidade, identidade própria e merece ser celebrada.

O set foi composto majoritariamente por músicas autorais, o que costuma deixar o público mais contido, mas ainda assim as reações foram positivas. O grupo executou também um cover muito bem-feito de “Hot for Teacher”, do Van Halen. O vocalista Guzz chamou o público à interação, ressaltando que havia feito o mesmo em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro e queria testar se São Paulo superaria as outras cidades. Não estive nos outros shows, mas arrisco dizer que não superou. Outro cover que entrou no repertório foi “Shoot to Thrill”, do AC/DC.

Covers mostram o alcance e a versatilidade dos músicos, mas talvez não fossem totalmente necessários para um show de abertura em um domingo à noite, diante de um público um pouco mais velho e, portanto, menos efusivo. Ainda assim, os músicos são extremamente competentes e entregaram uma performance sólida. Porém, incluir mais de um cover pode ser um tiro no pé em um set curto. A banda tem material suficiente para se sustentar por conta própria. Se fossem estrangeiros, provavelmente estariam em destaque em festivais como o Bangers, com milhares de brasileiros acompanhando. Fica aqui a mensagem: valorizem bandas autorais.

Electric Gypsy é formado por: Guzz (vocais), Nolas (guitarra), Pete (baixo) e Robert (bateria). 

Glenn Hughes revisita sua história com intensidade e emoção

Às 21h em ponto, Glenn Hughes subiu ao palco acompanhado de sua banda, saudando o público apenas com um emocionado “I love you”. “Soul Mover”, faixa-título de seu álbum solo de 2005, abriu o set com grande recepção. A Vip Station estava lotada e o público cantou do início ao fim. O som estava excelente e o timbre do baixo de Hughes foi um destaque à parte. Visivelmente emocionado, ele agradecia sempre que podia.

“Muscle and Blood”, do projeto Hughes/Thrall, veio em seguida. Com apenas alguns efeitos de reverb na voz em momentos pontuais, o restante foi puro desempenho ao vivo, visceral e bem executado. Acompanhado por Ash Sheehan na bateria e Søren Andersen na guitarra, o power trio mostrou que não precisa de nada além disso para conduzir uma viagem eficiente pela carreira de Hughes.

A cada intervalo possível, Glenn repetia: “I love you”.

Antes de “Voice in My Head”, música de seu álbum mais recente, ele agradeceu ao público pelo amor e apoio ao longo de toda a carreira e afirmou que provaria o quanto ama estar no Brasil. Disse também que a apresentação seria uma verdadeira viagem por sua trajetória desde a adolescência e que havia escolhido o setlist há seis meses, acreditando ter feito uma boa seleção. Revelou ter escrito mais de 500 músicas ao longo da vida e que é impossível agradar a todos.

“One Last Soul”, do Black Country Communion (supergrupo composto por Hughes, Joe Bonamassa, Jason Bonham e Derek Sherinian), seguiu. Hughes disse: “São Paulo, it’s time to get your groove on”, antes da excelente “Can’t Stop the Flood”, de seu álbum solo Building the Machine, de 2001.

Entre histórias e lembranças, Hughes manteve o público atento e conectado. Também relembrou momentos marcantes dos anos 80, arrancando risos ao brincar que, naquela época, tinha “cinco anos de idade”.

“First Step of Love”, do Hughes/Thrall, manteve o clima. Logo depois, ele falou sobre sua infância e adolescência, crescido em uma família da classe trabalhadora, e sobre o sonho de formar sua primeira banda, o Trapeze. Prestou homenagens aos integrantes que já se foram e declarou que esse período foi o melhor de sua vida, quando ainda era um músico inocente, antes da fama.

Lembrou dos anos 70, quando tocou no lendário Whisky a Go Go e viu uma das garotas mais bonitas de sua vida dançando. Chegando em casa, sua avó sugeriu que ele transformasse aquilo em música. A jovem em questão, tornou-se sua namorada, e assim nasceu “Way Back to the Bone”, primeira música do Trapeze a aparecer no set, seguida de “Medusa”, ambas do mesmo álbum. Hughes ressaltou que considerava esse período o auge emocional de sua carreira e que mesmo o Deep Purple, apesar do sucesso, não superou o impacto pessoal que o Trapeze teve em sua vida.

Não poderia faltar a parceria com Tony Iommi. Hughes comentou como alguém tão tranquilo pode escrever alguns dos riffs mais pesados da história e apresentou “Grace”, do álbum Fused, em um medley que incluiu “Dopamine”.

Antes de tocar “Chosen”, faixa-título de seu álbum mais recente, ele enfatizou que este é seu último disco de rock e que não poderia revelar mais detalhes. A declaração sugere que Hughes deve seguir novos caminhos musicais em breve.

Em seguida, anunciou que tocaria algo que não estava aparecendo em nenhum outro país da turnê, apenas no Brasil, por considerar o público especial. A música era “Mistreated”, do Deep Purple, executada com intensidade e emoção.

“Stay Free”, do Black Country Communion, encerrou o set regular, mas não sem antes Hughes repetir novamente “I love you”, caminhando pelo palco e se comunicando com quem estava mais próximo. Sua gratidão e carinho eram evidentes, quase palpáveis.

No encore, apenas Glenn retornou com seu violão, para um momento intimista com “Coast to Coast”, do Trapeze. Ele afirmou que a letra representava tudo o que aquela noite significava e que, se pudesse, diria “I love you” mil vezes. Contou que escreveu a música aos 12 anos, na cozinha da avó, quando ainda aprendia a tocar guitarra. O público ouviu em silêncio absoluto, visivelmente tocado.

Após se recompor por alguns instantes, voltou ao baixo para a pesada e energética “Black Country”, também do Black Country Communion.

Para encerrar a noite, veio o clássico “Burn”, talvez o ponto mais emblemático de sua passagem pelo Deep Purple e um dos maiores marcos da história do rock.

A noite reuniu duas apresentações muito distintas, mas igualmente relevantes. A Electric Gypsy mostrou que o rock autoral brasileiro está vivo, vibrante e merecedor de palcos maiores. Glenn Hughes, por sua vez, transformou seu show em uma celebração profunda de sua trajetória, unindo técnica, emoção e histórias que ajudam a entender seu lugar na música. Se esta realmente for sua despedida dos palcos como artista de rock, São Paulo presenciou um capítulo final digno de sua grandeza.

Agradecimentos: JZ Press | Dark Dimensions

Glenn Hughes setlist – VIP Station – 16/11/2025

Soul Mover
Muscle and Blood
Voice in My Head
One Last Soul
Can’t Stop the Flood
First Step of Love
Way Back to the Bone
Medusa
Grace / Dopamine
Chosen
Mistreated
Stay Free

Encore:
Coast to Coast
Black Country
Burn

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