Green Day em Curitiba mostra porque é uma das maiores bandas do punk rock em atividade

Para mais de 33 mil pessoas, a banda faz o que precisa ser feito: um show que entrega tudo e muito mais.

Fotos por Allan Fernandes (@urso.imagens)

Na sexta-feira (12), em Curitiba (PR), o Green Day realizou seu segundo show no Brasil em 2025. A banda norte-americana havia se apresentado dias antes em São Paulo, como headliner do festival The Town, em um show memorável. A próxima parada seria no Rio de Janeiro, no Estádio Nilton Santos, mas a apresentação acabou cancelada. O motivo foi a realização do jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil entre Botafogo e Vasco, já que não haveria tempo hábil para a logística de montagem e desmontagem do palco antes da partida.

Mesmo com o cancelamento no Rio, a apresentação em Curitiba consolidou a passagem do Green Day pelo Brasil como um dos grandes momentos da turnê. O trio formado por Billie Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria) entregou um repertório repleto de clássicos que marcaram gerações, além de faixas do mais recente trabalho da banda, o excelente Saviors (2024). O público paranaense correspondeu à altura, lotando a Arena da Baixada e transformando a noite em uma celebração da história do punk rock moderno.

Bad Nerves em show de abertura: Esses caras realmente são ingleses?

No show de abertura, o Bad Nerves entregou uma performance impecável, marcada pelo carisma de Bobby Bird, o vocalista britânico e líder da banda. Ao longo das doze faixas, ele manteve uma conexão constante com a plateia, alternando entre o inglês e as tentativas em português. Arriscou palavras curtas, demonstrando interesse genuíno em se comunicar, mas também ousou em frases mais longas, o que arrancou muitos aplausos e euforia. A dedicação conquistou o público de imediato. Já perto do fim da apresentação, Bird revelou que é casado com uma brasileira — e contou que foi ela quem o ajudou a preparar algumas das expressões usadas no palco.
Para uma banda de abertura ainda pouco conhecida pelo grande público, o grupo ocupou muito bem o palco com presença marcante, trazendo seus principais sons, entre eles a mais conhecida “Radio Punk” e envolvendo a plateia em diversos momentos, seja batendo palmas, pulando ou simplesmente se divertindo junto.
Quem já conhecia o trabalho aproveitou a oportunidade de ver de perto esse início de trajetória da banda, enquanto quem ainda não conhecia certamente saiu com a sensação de “quero ouvir mais”. É sempre especial quando uma banda de abertura consegue não apenas aquecer, mas conquistar de verdade um público que estava ali para outra atração. E foi exatamente isso que aconteceu.

Bad Nerves – Arena da Baixada – 12/09/2025

Baby Drummer
Don’t Stop
Plastic Rebel
Radio Punk
Television
Sorry
USA
Electric 88
New Shapes
Antidote
The Kids Will Never Have Their Say
You’ve Got the Nerve
Can’t Be Mine
Dreaming

Green Day em noite espetacular

Marcada para às 21h, a apresentação começou com dois minutos de antecedência. Quem tinha saído para ir ao banheiro ou para buscar uma bebida precisou correr de volta assim que as luzes se apagaram e os primeiros acordes de “Bohemian Rhapsody” ecoaram pela arena. Era o aviso inconfundível: o Green Day estava prestes a entrar em cena.

Com o coro da plateia acompanhando cada verso da clássica canção do Queen, a atmosfera foi tomando forma de ritual coletivo. A expectativa crescia a cada refrão, transformando a Arena em uma só voz antes mesmo de a banda aparecer.

Em seguida, foi a vez de “Blitzkrieg Bop”, do Ramones, dar o tom da “segunda chamada”. Aos gritos de “hey ho, let ‘s go!”, fãs da pista e das arquibancadas se uniram em um coro poderoso. O clima já era de explosão quando Billie, Tré e Mike surgiram no palco e os primeiros acordes de “American Idiot” ecoaram. Ficou claro desde o início: o Green Day estava mais afiado do que nunca. E, antes mesmo de a música avançar, Billie cravou o pacto da noite com o público: “Quero ver todo mundo ficar louco, ok?”.

Com uma produção imponente, incluindo pirotecnia, chuva de papel picado e um cenário que acompanha as diferentes fases de cada álbum, o Green Day tem apresentado, em maioria, músicas de Dookie (1994) e American Idiot (2004), além de faixas de outros discos e de seu trabalho mais recente, Saviors (2024). Apesar da estrutura do show, o setlist continua sendo uma verdadeira caixinha de surpresas. Nas últimas apresentações pela América do Sul, o trio tem feito mudanças frequentes, alterando músicas que entram e saem da lista. Alguns clássicos, como “She”, do álbum Dookie (1994), ficaram de fora das apresentações no Brasil, mesmo estando presentes inicialmente nos setlists. Já outras faixas, como “Church on Sunday”, de Warning (2000), executada em Curitiba, foram incluídas especialmente para presentear os fãs mais nostálgicos.

A ausência de “She” no setlist pode parecer um grande absurdo e talvez realmente tenha sido, mas nem isso diminuiu a satisfação do público presente. Desde o início, a sequência do show foi formada por verdadeiras “pedradas” e clássicos que não poderiam faltar. E posso arriscar dizer que o meio da apresentação seguiu na mesma intensidade, assim como o desfecho. Fica evidente, portanto, que o Green Day pode não ter tocado todas as músicas que cada fã sonhava ouvir, mas tudo o que foi escolhido para compor essa noite histórica foi recebido de braços abertos e com entusiasmo absoluto.

Um detalhe que chamou atenção foi a microfonia que começou em “Holiday”, segunda faixa do show, e persistiu em alguns momentos ao longo da noite. Houve momentos em que Billie chegou a demonstrar certo incômodo com o problema. Sejamos honestos: não foi algo que comprometeu a qualidade ou a entrega da apresentação, mas certamente é um detalhe que não deveria ocorrer em um espetáculo de uma magnitude como essa.


Em “Know Your Enemy”, Billie escolheu uma fã para subir ao palco e cantar junto com a banda. Esse sempre é um dos momentos altos dos shows do Green Day e confesso: é emocionante ver nos olhos de um fã a realização e a intensidade daquele momento. Fico me perguntando se ela tinha plena noção do que estava vivendo, não sei dizer se sim ou se não, mas uma coisa é certa: a sortuda estava completamente extasiada, aproveitando cada segundo no palco. Para mim, esse momento é uma espécie de missão cumprida: naquela noite, o Green Day fez 33 mil (+ 1) pessoas verdadeiramente felizes.


Ainda em “Know Your Enemy”,, Billie aproveitou a oportunidade para interagir mais uma vez com o público, convidando todos a participar de um animado ensaio de “call-and-response”, nessa técnica clássica de shows ao vivo, o cantor “chama” o público com uma frase ou palavra, que é imediatamente repetida pelos fãs. O objetivo é criar uma conexão energética entre banda e plateia, amplificando a experiência e transformando o momento em algo inesquecível e, naquela noite, funcionou perfeitamente.

Em “Hitchin’ a Ride”, o grupo presta uma homenagem a Ozzy Osbourne com um trecho de “Iron Man”, do Black Sabbath. A banda repete a técnica do call-and-response, e, por alguns momentos, a sensação é a de estar em um show dos anos 80, conduzido por Freddie Mercury, com o icônico vocalista regendo a plateia como era costume naquela época.

Em “St. Jimmy”, ao final da apresentação, Billie deixa o microfone cair propositalmente em um clássico gesto de “drop the mic”, sinalizando que havia entregue uma performance impecável e de tirar o fôlego. A energia estava tão intensa que, na faixa seguinte, “Dilemma”, Tré Cool faz o mesmo com suas baquetas, lançando-as para o alto em um ato que poderíamos chamar de “drop the drumsticks”, reafirmando o clima explosivo e contagiante do show.

Em “Minority”, em um gesto de grande respeito e carinho pelos fãs brasileiros, Billie pegou uma bandeira do Brasil, envolveu-se com ela e declarou seu amor pelo país e pelo público local. A música começou com um som arrebatador de gaita, que arrepiou a plateia, seguido de mais um momento de call-and-response com o público. Entre as interações, ainda houve algumas saídas perceptíveis de microfonia, mas nada que diminuísse a energia e a emoção do momento.

Um enorme balão com a frase “Bad Year” circula pela pista durante “When I Come Around”, uma das canções mais emblemáticas do trio, do álbum Dokie (1994), celebrado nesta turnê. O balão é um clássico nos shows do Green Day e uma paródia direta da famosa marca de pneus Goodyear, conhecida pelo seu dirigível publicitário, além de estar presente na icônica arte da capa do disco Dookie. A banda começou a usar esse balão inflável em turnês antigas como uma forma de sátira, trocando o “Good” (bom) por “Bad” (ruim), numa crítica bem-humorada ao caos social, político e pessoal que frequentemente inspira suas letras.

Em “Letterbomb”, Billie fez questão de interromper a euforia por alguns instantes para deixar um recado com um tom crítico e politizado, sem citar nomes ou fazer acusações diretas. Com a voz carregada de emoção, ele falou sobre a urgência de mais amor no mundo, de olhar para o outro com atenção e compaixão, e de nos unirmos em vez de nos lançarmos em guerras desnecessárias. Naquele momento, o estádio se silenciou, e cada palavra parecia reverberar no coração de todos. O desabafo foi recebido com aplausos calorosos, como se cada fã reconhecesse a verdade e a intensidade do que estava sendo dito, um instante de reflexão profunda em meio ao caos vibrante de um show eletrizante.

Quando chegou a vez de “Jesus of Suburbia”, a Arena foi tomada por uma energia quase épica. A longa e complexa faixa, dividida em vários atos, ganhou vida com cada mudança de ritmo e a banda conduziu a plateia por uma verdadeira montanha-russa de emoções. Fãs cantavam cada verso junto com Billie, enquanto a guitarra e a bateria criavam camadas de intensidade que tornavam impossível ficar parado. Foi um dos momentos mais grandiosos do show, mostrando não apenas a habilidade técnica do Green Day, mas também a conexão profunda que eles conseguem estabelecer com o público.
Após “Bobby Sox”, com direito a papel confetti, bateria destruída e quase duas horas de espetáculo ininterrupto, o Green Day se despediu da Arena, deixando para trás uma plateia eufórica e plenamente conectada à energia da banda. No pedido insistente pelo bis, Billie Joe retornou ao palco, desta vez com seu violão em mãos, e apresentou “Good Riddance (Time of Your Life)”, uma das baladas mais emblemáticas do repertório da banda.


O clima mudou instantaneamente: a intensidade deu lugar à introspecção, e cada acorde envolveu o público em uma atmosfera de nostalgia e emoção. A canção encerrou a noite de maneira magistral, transformando o espetáculo em uma experiência memorável, capaz de permanecer na memória coletiva como um momento de pura conexão entre artistas e fãs.

Green Day – Arena da Baixada – 12/09/2025

American Idiot
Holiday
Know Your Enemy
Boulevard of Broken Dreams
One Eyed Bastard
Revolution Radio
Church on Sunday (Tour debut)
Longview
Welcome to Paradise
Hitchin’ a Ride
Brain Stew
St. Jimmy
Dilemma
21 Guns
Minority
Basket Case
When I Come Around
Letterbomb
Wake me Up When September Ends
Jesus of Suburbia
Bobby Box
ENCORE
Good Riddance (Time of Your Life)

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