Fotos por Gabriel Gonçalves gentilmente cedidas pelo https://igormiranda.com.br/
Confortável e nítidamente feliz em sua carreira solo, o guitarrista ex-Megadeth e Angra fez o que, possivelmente, foi seu show mais impactante em solo paulistano até hoje levando seu próprio nome. Entre músicas instrumentais, arriscando cantar músicas do grupo americano onde ficou por oito anos, e clássicos da banda que o revelou, com participação de Alírio Netto no vocal — além, claro, da participação mais que especial do lendário Marty Friedman, apresentação de Kiko Loureiro foi, em todos os aspectos técnicos, impecável, mas o horário prejudicou o público.
PÚBLICO IMPRESSIONA PARA SHOW QUASE INSTRUMENTAL:
Não é comum o grande público se interessar por shows de música instrumental — de fato, se formos olhar a carreira do próprio Kiko em sua empreitada solo, suas apresentações sempre foram em teatros, ou em espaços do Sesc, coisas do tipo —, mas se tratando do “universo Angra”, a coisa pode mudar de figura. Adicione isso ao fato dele ter sido o guitarrista do Megadeth, e estar ao lado de ninguém menos que Marty Friedman, e você terá algo, no mínimo, grande. Foi o que se viu no show na fria noite de sábado em São Paulo, no Tokio Marine Hall. Claro que não podemos comparar com shows da magnitude de uma banda “tradicional”, como o próprio Angra, e muito menos o Megadeth, mas dá para se afirmar que, sim, dentro de sua proposta, Kiko vai de vento e popa em sua empreitada solo, com uma considerável fila de fãs esperando as portas da casa se abrirem, com camisetas das mais diversas bandas e gêneros, fossem do próprio guitarrista, ou de estilos semelhantes — semelhantes que, aliás, já abre uma gama imensa de possibilidades, já que os estilos que ele passeou são diferentes como água e fogo, e mesmo assim todos estavam em perfeita harmonia. Próximo das 20h, as portas se abriram, e as pessoas tranquilamente foram entrando e se acomodando na pista, ou no hall da casa, no caso de quem não queria ver o show de abertura do guitarrista americano-colombiano Andy Addams.
ABERTURA DE ANDY ADDAMS AGRADA UM AINDA MODESTO PÚBLICO:
Pouco conhecido no Brasil, o guitarrista colombiano-americano Andy Addams é um exemplo de superação em sua carreira — após passar um período muito difícil, quando perdeu tudo em investimentos na Colômbia, e ter feito trabalhos manuais em Miami, agora é diretor de espetáculos de teatro, além de uma carreira solo sólida. Sua aposta em um show instrumental, algo possivelmente cansativo, foi uma boa surpresa quando subiu ao palco com uma jaqueta com luzes de led coloridas, no melhor estilo Steve Vai, e uma presença de palco notória para um guitarrista. Andy tem uma técnica impecável, e sua banda de apoio é o fino de seus instrumentos.
Um show relativamente curto, direto, e que conseguiu não ser cansativo dentro de sua proposta, fechado com chave de ouro com um excelente medley de clássicos, como “Separate Ways”, do Journey, e “Ain’t Talkin’ ‘bout Love” do Van Halen, e outro de músicas de anime, como “Pegasus Fantasy”, de Cavaleiros do Zodíaco, e “Cha-la Head Cha-la”, de Dragon Ball Z, desenho japonês mais famoso da história a nível mundial. Foi bem legal ver que muitos que não queriam, a princípio, ver o show de Andy, irem entrando ao longo da apresentação, pois a música lhes agradava.
Setlist Andy Addams – 07/06/2025:
Redemption
Black Moon
The Eye of the Moon/When the Spirits Collide
Silver Tears
Solo de Baixo
Everlasting Fate
The Warrior
Solo de Bateria
Piedra de Fuego
Medley – Clássicos/Anime
Kiko Loureiro passeia por sua carreira com ótimas participações:
Hoje, no metal, o nome brasileiro mais conhecido no mundo é Kiko Loureiro — claro, falando apenas do nome de um músico, já que dificilmente Sepultura será superado, no geral. Após sua passagem de oito anos pelo Megadeth, o guitarrista revelado pelo Angra era o dono da noite. A promessa era, claro, um foco em sua carreira solo instrumental, mas nem só disso o show se valeu. Era óbvio que, para um show dessa magnitude, o seu mais importante até o momento em sua jornada como músico solo, poderíamos esperar canções de suas bandas anteriores — e foi o que tivemos: um passeio por sua carreira, de seu passado ao presente. Fato, também, que a anunciada presença do lendário Marty Friedman era um chamariz, e não podia ser diferente, pois o americano, radicado no Japão é, para todos os efeitos, um dos maiores ídolos do instrumento para qualquer um que toque ou almeja tocar guitarra.
Um ponto negativo que deve ser falado é o horário. Dez da noite, para um show completo, de mais de duas horas de duração, é complicado, e sim, causou transtornos ao fim — ainda mais com o atraso de quinze minutos! Isso se tornou praxe em eventos da Toplink, o que gera, por toda a internet, reclamações. Bem, às 22h15, finalmente as luzes se apagaram, e o show começou!

As primeiras músicas realmente foram instrumentais, de três álbuns diferentes: “Blindfolded”, “Reflective” e “Overflow”. Kiko estava à vontade no palco, curtindo tocar aquilo, e o público compartilhou isso no começo, mas no fim da terceira, já estavam demonstrando ansiedade para ouvir algo mais “comum”, por assim dizer. Claro que ele já sabia disso, e logo pudemos ouvir algo pesado! Se arriscando nos vocais, “Killing Time”, do último álbum do Megadeth, The Sick, the Dying… and the Dead trouxe mais ânimo ainda. Não que Dave Mustaine seja reconhecido por sua técnica vocal apurada, mas foi legal ver o brasileiro se arriscando a cantar, e ele mandou bem. Voltamos ao foco nas guitarras com “Pau-de-Arara”, do Universo Inverso, e a faixa-título de seu primeiro álbum solo, “No Gravity”. Claro que os fãs do Angra não poderiam ser esquecidos, por isso veio um medley da banda, com os riffs e passagens de músicas icônicas, como “Carry On”, “Nova Era”, “Spread Your Fire”, entre outros clássicos. E lá vem mais thrash metal! “Conquer or Die” e “Dystopia”, ambos do disco de 2016, novamente botaram Kiko para cantar. O momento desnecessário, especialmente dado o horário, foi uma Jam de improvisos demasiado longa, que se seguiu por “Mind Rise”. Kiko, então, saiu do palco com o resto da banda.
Agora era o momento dos fãs de power metal! A introdução “Crossing”, do álbum Holy Land só podia significar uma coisa: com Alírio Netto, ex-vocalista do Shaman no palco, “Nothing to Say”, do Angra! Claro que não ficaria só nisso com o cantor ali, e seguiu com “Angels and Demons”, e versões acústicas de “Late Redemption” e “Heaven and Hell”, do Black Sabbath.

Já passava de uma hora de show, e estava faltando algo — na verdade, alguém. Essa pessoa logo apareceu, e lá estava ele, Marty Friedman, que gravou grandes discos do Megadeth nos anos noventa e oitenta. Começaram a parceria com “Hyper Doom”, da carreira solo de Marty, mas logo veio “Tornado of Souls”, uma das músicas mais amadas pelos fãs do thrash. Outra parte interessante foi o medley de “Asa Branca” e “Brasileirinho”, dois clássicos da música brasileira, que o americano tocou com maestria.
Como fã de Angra, não posso deixar de destacar um dos momentos finais: ver Marty Friedman tocando “Rebirth”, também com Alírio nos vocais, foi emocionante. Apesar disso, já ia quase passando da meia noite, e muitos iam deixando a casa nas últimas músicas — uma lástima por parte do evento, e compreensível por parte dos fãs, pois muitos dependem do transporte público para voltar para casa. Depois de algum falatório, Kiko terminou o show com “Enfermo”, já quase na madrugada.

Kiko em seu melhor momento, e a lenda Marty Friedman compensam o horário:
Em termos de show, impecável! Todo mínimo detalhe técnico, um bom artista de abertura, e ótima escolha de setlist valeram assistir o espetáculo! Por outro lado, sair quase meia noite e meia é inegavelmente um transtorno, dado o horário do transporte coletivo, algo recorrente em shows da Toplink. Injustificável, também, é o fato de, em mais um evento dessa produtora, atraso nas apresentações, que ocorrem todo show deles. Dito isso, apesar dessa questão de horários, que devem ser melhorados com urgência, o evento em si: som, luzes, participações, setlist (ok, sabemos que vocês queriam “Symphony of Destruction, mas convenhamos, já estava bom como foi!) e, especialmente, performances, tudo nos trinques! É um show que merece ser visto.
Setlist Kiko Loureiro e Marty Friedman – 07/06/2025:
Blindfolded
Reflective
Overflow
Killing Time
Pau-de-Arara
No Gravity
Medley Angra
Conquer or Die!
Dystopia
Jam/Improviso
Mind Rise
Nothing to Say
Angels and Demons
Late Redemption/Heaven and Hell
Hyper Doom
Tornado of Souls
Asa Branca/Brasileirinho
Tearful Confession
Rebirth
Enfermo