Show gira em torno do vocalista Gavin Rossdale, que impressiona pela presença de palco, mas decepciona com aparente uso de playback
Texto por Luís S. Bocatios e Fotos por Amanda Sampaio
O Bush é uma banda britânica de rock alternativo formada em 1992, que ganhou fama logo com seu disco de estreia, Sixteen Stone (1994), e marcou época para os que viveram os anos 1990. Mesmo tendo saído do mainstream ao longo do tempo, o grupo continua com uma base de fãs fiel, que compareceu em peso para prestigiar a apresentação da última terça-feira, 1 de abril, na Ópera de Arame — primeira visita da banda à Curitiba desde 1997.
O show fez parte da “Loaded: The Greatest Hits Tour”, primeira passagem da banda pela América Latina desde 2019, que ainda contou com apresentações em Santiago, capital do Chile, no festival Lollapalooza, em São Paulo, e no Rio de Janeiro.
Atualmente, o único membro original da banda é o vocalista Gavin Rossdale, que é acompanhado pelo guitarrista Chris Traynor, pelo baixista Corey Britz e pelo baterista Nik Hughes. A grande força da banda ao vivo reside na cozinha: privilegiado por um destaque no sistema de som, o pulsante baixo de Britz carrega as canções, enquanto Hughes desce a mão na bateria, enchendo a banda de energia e oferecendo ótimas viradas. Chris Traynor é competente, mas um pouco mais discreto.
Contrariando seus contemporâneos dos anos 1990, como Thom Yorke, do Radiohead, e Liam Gallagher, do Oasis, que oferecem uma performance ao vivo mais blasé, Rossdale tem uma energia incrível: já na primeira música, “Everything Zen”, o vocalista se agacha para interagir com o público, fazendo com que os fãs mais próximos ao palco quase consigam encostar em sua guitarra.
Em “Bullet Holes”, ele passou quase um minuto cantando de mãos dadas com um fã; em “Quicksand”, desce do palco e vai até o fundo da Ópera de Arame para cantar no meio dos fãs; em “Identity”, arrasta sua guitarra no amplificador, remetendo ao hard-rock clássico. Ao longo de todo o show, é difícil tirar os olhos de Rossdale, que tem o público nas mãos e uma presença de palco invejável.
Por outro lado, é necessário apontar que, lamentavelmente, Rossdale parecia estar usando playback durante o show inteiro. Isso se tornou perceptível durante “Quicksand”, em um momento no qual o microfone estava longe da boca do vocalista, mas o som de sua voz “saiu” perfeito. Uma vez que você vê, não dá mais pra “desver”.
Até que o playback é bem feito, emulando até a respiração do vocalista antes de cada frase, mas, em alguns momentos, o microfone está longe dele e a respiração continua lá. Para um artista pop que está tocando em grandes arenas, esse recurso já é bastante questionável; para uma banda de rock tocando em um lugar para pouco mais de mil pessoas, é praticamente inaceitável — não apenas artisticamente, mas também em termos de respeito ao público, que pagou para assistir a uma performance ao vivo.
Tentando deixar isso de lado, o que é difícil, o show é bastante divertido e satisfatório: as cinco primeiras músicas pegam o público de jeito e conseguem manter a animação lá em cima o tempo todo. São elas os clássicos “Everything Zen” e “Machinehead”, de Sixteen Stone, que foram entoadas a plenos pulmões pelo público; “Bullet Holes”, do álbum The Kingdom (2020); “The Chemicals Between Us” e “Greedy Fly”, mais dois clássicos dos anos 1990.
A performance é tão bem pensada para manter o público ligado que, durante a música mais nova da sequência, o vocalista guarda pela primeira vez a guitarra e se agacha perto do público, mantendo uma interação engajante que domina todos os olhos da plateia – o que se tornaria uma constante a partir daí. Antes da próxima música, o vocalista agradeceu ao público pela presença e ressaltou que a banda tem um disco prestes a ser lançado – referindo-se a I Beat Loneliness, que deve sair ainda no primeiro semestre -, o que deve bagunçar o repertório das próximas turnês.
É na fraca “Quicksand”, a sexta música, que Rossdale leva a plateia à loucura de vez, descendo do palco e cumprimentando todos que cruzavam seu caminho até a penúltima fileira da Ópera de Arame, prestigiando até o público que estava quase pra fora do teatro. O vocalista subia nas cadeiras da Ópera de Arame e interagia com todos ao seu redor, exibindo um enorme carisma.
Em seguida, foi a vez da pesada “Identity”, música do último álbum de estúdio da banda, The Art of Survival. Foi a surpresa da noite, pois não esteve presente no show em Santiago e nem no Lollapalooza, e antecedeu “Swallowed”, um dos maiores sucessos da banda, que foi cantada por Rossdale sozinho no palco, sob a luz branca dos holofotes, com a harmonia marcada apenas por um arranjo de cordas. Mesmo em uma versão decepcionante, foi o momento dos casais apaixonados e de maior nostalgia para os que cresceram nos anos 1990.
Se aproximando do final do show, a banda emenda a excelente “Heavy is the Ocean”, também de The Art of Survival, uma das melhores do show; a discreta “Flowers on a Grave” e a clássica “Little Things”, que fechou a primeira parte do set com um público entusiasmado que cantou a música inteira com enorme empolgação.
Após uma curta pausa, a banda retorna para a boa “More Than Machines”, última representante de The Art of Survival, que deixa espaço para que dois clássicos de Sixteen Stone fechem a noite. O primeiro deles, “Glycerine”, é o maior sucesso da banda e foi novamente performada apenas por Gavin Rossdale, dessa vez acompanhado de uma guitarra, até que o resto da banda entra e faz a base para que o frontman faça um modesto solo de guitarra.
A noite foi encerrada pela ótima “Comedown”, que mandou os fãs pra casa muito satisfeitos e felizes, mesmo que tenham tido a inteligência um tanto quanto insultada por um aparente uso claríssimo de playback.
Repertório
Everything Zen
Machinehead
Bullet Holes
The Chemicals Between Us
Greedy Fly
Quicksand
Identity
Swallowed
Heavy is the Ocean
Flowers on a Grave
Little Things
More Than Machines
Glycerine
Comedown