Na noite de quinta-feira (6), o Cine Joia, em São Paulo, foi transformado em um caldeirão de energia pura e caos organizado. O motivo? A estreia da Amyl and the Sniffers no Brasil, em um show que deixou claro por que essa banda australiana tem sido considerada uma das mais eletrizantes da nova geração do punk rock.
Texto por Guilmer Silva (@guilmermetal) e fotos gentilmente cedidas pela revista Roadie Crew (@roadiecrewmag) e Belmilson Santos (@bel.santosfotografia)
A banda fez parte da programação do Punk Is Coming, que foi um encontro do passado, presente e futuro do punk, com as bandas Sublime, Rise Against, The Damned e The Warning tocando no Allianz Parque neste último sábado (16). E, para quem pensava que o punk estava morto, Amy Taylor e sua trupe provaram que ele está mais vivo do que nunca – e com uma dose extra de atitude.
Antes da Amyl and the Sniffers subir ao palco, o público foi aquecido pela Klitoria, banda carioca que trouxe uma energia crua e visceral, misturando garage rock com punk de maneira impressionante. Com um set de 45 minutos, eles conquistaram a plateia desde o primeiro acorde. A vocalista e baterista Maria Luiza Bessa, com sua presença magnética e uma entrega que beirava o desespero controlado, foi o centro das atenções. Em um momento hilário, ela precisou parar brevemente para secar as mãos, que estavam escorregando por causa de um produto que passou no cabelo – um detalhe que só acrescentou à autenticidade do show.
O repertório da Klitoria, que incluiu músicas como “Armadilha” e “Skate Karate“, além de faixas do novo EP Entre o Chão e o Assoalho, mostrou uma banda que não tem medo de ser direta, polêmica e, acima de tudo, verdadeira. A energia deles era tão contagiante que até a Amy Taylor, durante o show principal, pediu aplausos para a banda de abertura, reconhecendo a força do quarteto carioca.
.Desde o primeiro acorde de “Control“, que abriu o set da Amyl and the Sniffers, até o último grito de “Facts“, que encerrou a noite, o público foi levado em uma montanha-russa de energia, suor e adrenalina. Amy Taylor, com seu cabelo loiro estilo Farrah Fawcett e uma presença de palco que lembra uma fusão entre Iggy Pop e She-Ra, comandou o espetáculo com uma intensidade que deixou todos boquiabertos. Ela não só cantou, como performou cada música, correndo de um lado para o outro do palco, interagindo com a plateia e até mesmo virando uma dose de bebida no meio do show – porque, sim, punk também é sobre quebrar regras.
O repertório foi uma viagem pelos três álbuns da banda: o autointitulado Amyl and the Sniffers (2019), Comfort to Me (2021) e o mais recente Cartoon Darkness (2024). Hits como “Freaks to the Front“, “Security“ e “Guided by Angels“ foram recebidos com gritos ensurdecedores, enquanto faixas do novo álbum, como “Chewing Gum“ e “Some Mutts (Can’t Be Muzzled)“, mostraram que a banda não só mantém a qualidade, como também evolui sem perder sua essência. E, claro, “Jerkin“, a música mais icônica do grupo, foi o ápice da noite, com a plateia cantando cada palavra em uníssono, como se fosse um hino punk moderno.

Mas o show não foi só sobre música. Foi sobre conexão. Amy Taylor, entre uma música e outra, encontrou tempo para conversar com o público, ensaiar palavrões em português e dedicar “Got You“ a todas as mulheres presentes. Em um momento emocionante, ela perguntou: “Temos amigos trans aqui hoje?” – uma lembrança de que o punk, além de ser sobre rebeldia, é também sobre inclusão e dar voz a quem muitas vezes é silenciado. E, claro, não faltaram xingamentos a figuras como Donald Trump, Elon Musk e Vladimir Putin, porque, bem, punk também é sobre protesto.
O público, por sua vez, estava em sintonia total com a energia do palco. Desde os fãs que chegaram cedo para garantir um lugar na grade até os que preferiram curtir o show de longe, todos pareciam estar ali por um motivo: celebrar a música, a liberdade e a energia que só o punk pode proporcionar. E, quando a banda deixou o palco após “Hertz“, os gritos de “one more song!” ecoaram pelo Cine Joia, resultando em um bis emocionante com “Balaclava Lover Blues“ e “Facts“.

No final, o que ficou claro é que a Amyl and the Sniffers não é só mais uma banda de punk rock. Eles são um fenômeno que resgata o espírito cru e autêntico do gênero, enquanto o levam para novos patamares. E, se essa noite no Cine Joia foi um indicativo, o futuro do punk está em boas mãos – ou melhor, em boas guitarras, baixos e baterias. Para quem ainda não conhece, é hora de correr atrás. E para quem já conhece, é hora de se preparar, porque o punk está vindo, e ele está mais forte do que nunca.
Porque punk não é sobre perfeição, é sobre sentir. E essa noite foi pura emoção.
Setlist Klitoria
Armadilha/Sinal
Flores Podres
190
Xapisco
Laboratório
Skate Karate
Inferno Espera
Cromática
Bolso Oco
Não Memória
Seus Laços
Intenções e Reações
Todo Homem Foi Feito para Dar
Menina
Nada Mais Brilha
Cigarro
Não Me Siga
Só Vou Descansar
Eu Não Vou Te Ouvir
Setlist Amyl and the Sniffers
Control
Freaks to the Front
Doing in Me Head
Security
Maggot
GFY
Got You
Chewing Gum
I’m Not A Loser
Guided By Angels
Knifey
Some Mutts (Can’t be Muzzled)
Jerkin’
Me and the Girls
Tiny Bikini
Big Dreams
It’s Mine
U Should Not Be Doing That
Hertz
Bis
Balaclava Lover Boogie
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