Após um ano da apresentação do Symphony X no Monsters of Rock de 2023, a banda volta ao Brasil para uma turnê solo em comemoração aos 30 anos de carreira, o que provocou a euforia da legião de fãs
Texto por Guilmer e Fotos por Natalia Eidt
Virtuosismo made in Brasil
A abertura do evento ficou a cargo de Luiz Toffoli, uma agradável surpresa da noite, com um metal progressivo de alta qualidade que exala técnica e virtuosismo. Luiz Toffoli é um guitarrista, compositor e letrista de Curitiba/PR, que iniciou suas atividades em 2014 e, em 2023, lançou seu primeiro álbum, “Enigma Garden“, que busca referências em gêneros como metal progressivo, música brasileira e música erudita, trazendo influências de bandas como Dream Theater, Symphony X e Angra.
O vocalista Leo Leal dirigiu o show com maestria, destacando-se com sua voz potente e melódica. Acompanhado por Léo Carvalho no teclado, Pedro Tinello na bateria (um monstro nas baquetas) e Douglas Máximo no baixo, a banda conquistou o público com suas músicas autorais e um impressionante cover de “As I Am”, do Dream Theater, que, diga-se de passagem, não é tarefa fácil. As faixas autorais “I’m Alive”, a balada “The Place I Want to Be (With You)” e a pesada “Frenetic Freak” fazem parte do único álbum da banda lançado em 2023, o ótimo “Enigma Garden“. Um show curto, mas extremamente técnico e bem feito.
Uma curiosidade bacana, é que ao contrário da banda recutada para tocar nos shows, o primeiro e único álbum da banda, foi gravados pelos já conhecidos do público; nos vocais Thiago Bianchi (Noturnall), no baixo Felipe Andreoli (Angra), nos teclados Pablo Greg (Noturnall), e na bateria teve o Pedro Tinello (ex-Almah) e Henrique Pucci (Noturnall).
Progressivo de mais alto nível
Com a casa cheia, o Symphony X subiu ao palco pontualmente às 22:00, e a fritação começou. Formada por Michael Romeo, Russell Allen, Michael LePond, Jason Rullo e Michael Pinnella, a banda trouxe uma apresentação técnica e pesada que preencheu o Tokio Marine Hall com os agudos bem colocados do vocalista e uma bateria imparável, além do carisma de quem se sente à vontade, como se estivesse em casa. O show começou com a excelente “Iconoclast” do álbum de mesmo nome lançado em 2011. O show de luzes deu um charme ao início impecável, mostrando logo ao que a banda veio e fazendo o público reagir em êxtase.
É incrível como a banda soa ainda mais pesada ao vivo, beirando o thrash metal em alguns momentos. Com a faixa seguinte, “Nevermore”, a banda demonstrou o quanto está feliz e entusiasmada em tocar no Brasil. Russell Allen é o carisma em pessoa; com seus 53 anos, ele dá um banho de vitalidade em muitos artistas da atualidade, correndo e pulando de um lado para o outro, mostrando que é possível envelhecer bem e com a voz ainda melhor do que há 20 anos.
A faixa da vez foi a clássica “Inferno (Unleash the Fire)” da epopeia The Odyssey, lançada em 2002, um álbum adorado pelos fãs. O álbum é baseado na obra épica “Odisseia”, de Homero, um clássico do progressivo moderno. Aqui, o virtuosismo é elevado a mil. Essa faixa fez a alegria dos fãs raiz.
A banda seguiu com a fase mais moderna, que, confesso, é a minha favorita. A faixa “Serpent’s Kiss” fez todos os presentes pular, com um som quase hard rock da banda. Ao vivo, funcionou muito bem, e Russell sabe dar vida a qualquer música que cante.
Em uma pequena pausa, Russell agradeceu a presença de todos, mencionou que a última vez que estiveram no Brasil foi no Monsters, e que o Brasil é um dos melhores lugares do mundo para tocar, destacando a incrível energia do público. Em seguida, anunciou uma das minhas favoritas, “Without You”, uma das baladas da banda. Música lindíssima, foi emocionante ao vivo.
Quando o show é bom, o tempo voa, certo? Chegamos à metade do show, e a faixa “To Hell and Back” foi executada. Esta música faz parte do último álbum da banda, o excelente e pesado Underworld, lançado em 2015. Um álbum fortemente inspirado pelo poeta italiano Dante Alighieri, baseando-se nos temas da Divina Comédia, mais notavelmente a parte sobre “Inferno”. Embora Michael não o considere um álbum conceitual, ele concorda que o tema se repete em algumas músicas.
A banda toca ao vivo de forma impressionante, fazendo parecer fácil. O veterano Michael Romeo demonstra ao vivo por que é um dos guitarristas mais criativos e técnicos do progressivo mundial. A influência que ele teve nas bandas de prog atuais é evidente. No final da música, Allen soltou uma á capella que mostrou por que é um dos grandes vocalistas do metal mundial. Que voz!
Sem perder o ritmo, Russell anunciou uma faixa do clássico “V: The New Mythology Suite“, lançado em 2000. Aqui, o fã de longa data foi à loucura; esse som cheira a prog dos anos 2000, bons tempos… O baterista Jason Rullo se superou aqui, precisando de muito fôlego e físico para tocar esse som.
Russell não parou, andando de um lado para o outro enquanto a banda executava a excelente “Run With the Devil”. Amo esse som, e ao vivo é ainda melhor. Um prog de alta qualidade! A banda foi apresentada da melhor forma, durante uma música, com todos tocando de forma descontraída. Allen teve o público em suas mãos; tudo o que ele pedia era feito. Que presença de palco!
Caminhando para a parte final do show, a faixa “Set the World on Fire (The Lie of Lies)”, que faz parte do ótimo álbum Paradise Lost, lançado em 2007, foi tocada em alto nível. Esse álbum deu início à fase mais moderna e pesada da banda.
Após pouco menos de 10 minutos de espera, a banda retornou para encerrar a noite com um solo de teclado que deu início à pedrada “Paradise Lost”, seguindo com as faixas “Out of the Ashes” e “Of Sins and Shadows”, ambas não tocadas desde 2016, mas presentes no set da turnê brasileira. Essas músicas são pequenos resquícios de um passado distante e fazem parte do álbum The Divine Wings of Tragedy, lançado em 1996. Um show que deixou um gostinho de quero mais. O Symphony X mostrou como se faz uma performance de alto nível, e esperamos que eles voltem em breve, acompanhados de um novo álbum.
Setlist:
Iconoclast
Nevermore
Inferno (Unleash the Fire)
Serpent’s Kiss
Without You
To Hell and Back
Evolution (The Grand Design)
Run With the Devil
Set the World on Fire (The Lie of Lies)
Encore:
Paradise Lost
Out of the Ashes
Of Sins and Shadows