Jethro Tull — Show incrível para ficar na memória, mas não nos registros.

Texto por Fernando Queiroz / Foto: Getty Images

Em uma apresentação que não parecia um show de rock, mas uma peça musical nos moldes de eruditos, com todos sentados, Ian Anderson e o Jethro Tull têm performance impecável, mas com proibição de registros fotográficos e de filmagem, deixando quem queria registros deste grande momento a ver navios.

É bom, primeiramente, deixar claro que a falta de registro fotográficos da apresentação, tanto profissionais quanto amadores, não é culpa do site ou sequer da produção do evento, mas sim uma exigência específica de Ian Anderson, flautista, vocalista e líder do Jethro Tull. Assim, o que lá se viu ficará nas memórias dos sortudos presentes, mas apenas na memória mesmo.

Sempre que se pensa em bandas clássicas, aquelas dos anos 60 ou 70, temos quase que invariavelmente a percepção de qualidade. Afinal, ter cinquenta, ou quase cinquenta anos de estrada definitivamente não é para qualquer um, e é preciso muita competência para se manter por tanto tempo em um mercado tão competitivo. Algumas decaem muito, outras não, e o Jethro Tull provou que está no grupo que se mantém, fazendo uma apresentação majestosa em São Paulo. É verdade que a banda Jethro Tull hoje é o próprio Ian Anderson, já que seus músicos de apoio são em grande parte integrantes de sua banda solo — o último integrante clássico, Martin Barre, saiu em 2012, deixando a banda por muito tempo em hiato —, que ele resolveu colocar como Jethro Tull o nome usado para discos e apresentações recentes, a partir de 2017. Músicos esses que mostram como sabemos pouco do que é tocar um instrumento, e se houve erro de uma nota sequer, foi muito.

O público relativamente grande da apresentação era formado, como se via na entrada do Vibra SP, por pessoas geralmente mais velhas, com seus cabelos grisalhos e claramente de boa condição financeira. Desde a entrada, em telas de LED espalhadas pela chique casa, via-se mensagens avisando sobre a proibição do uso de celulares e câmeras para fotografar e filmar durante a apresentação.

Outro fato curioso, que fazia a apresentação destoar de um show de rock, era o fato de ser com público sentado em cadeiras com lugar marcado. Alguns argumentam que isso tira a graça, o brilho do evento, mas a verdade é que a proposta da coisa era outra, era ser uma apresentação das músicas do Jethro Tull por Ian Anderson em formato quase comemorativo, e o próprio vocalista assim agiu durante todo o tempo.

Setlist variado e não focado só em clássicos:

De fato, ao começar o show, quase pontualmente às 21h e uns quebrados, a banda mostrou a que veio, mesclando clássicos dos anos 60, 70 e 80 da banda, com algumas mais recentes, dos últimos dois álbuns, já após a ‘volta’ da banda sob esse nome, todas impecavelmente executadas em uma verdadeira viagem pela longa carreira da banda. Ian Anderson, por sua vez, apesar de já não ter mais a potência e força na voz de outrora — vamos dar um desconto, o homem está com 76 anos de idade — possui um carisma e um jeito único de cantar inconfundíveis, e para deixar tudo mais incrível, ele alternava entre usar sua voz e tocar flauta transversal e doce, instrumentos de sopro que exigem um fôlego muito grande. Excêntrico, Anderson andava pelo palco enquanto tocava sua flauta e dançava como um “duende”, não mais com a energia que fazia em sua juventude, mas com animação, além de fazer caretas caricatas e carismáticas, típicas de sua personalidade.

No telão ao fundo do palco, imagens que ilustravam a temática de absolutamente todas as músicas da banda, em uma produção visual incrivelmente bem executada, e no intervalo entre quase todas as músicas, Ian fazia uma breve apresentação sobre a próxima música e seu tema e como foi composta, ou sobre a música que acabaram de tocar, dando realmente a sensação de uma apresentação de história como nas apresentações de orquestras.

Layout de palco criativo e arranjos diferentes:

Outros pontos a serem destacados são, em primeiro lugar, o layout diferenciado de palco, com bateria e teclado às laterais do palco, deixando ampla visão para o telão com as imagens temáticas; e em segundo, e principal, são os arranjos diferenciados para os clássicos, com bem mais flautas e elementos folclóricos rurais ingleses (para quem não sabe, esse é o principal foco inicial da banda, e Jethro Tull, na realidade, é o nome de um revolucionário e inovador agricultor e fazendeiro da Inglaterra do século XVII e XVIII), deixando nítido que não era apenas uma apresentação de músicas da banda, mas uma experiência ao vivo totalmente única, APENAS para quem está nos shows — e novamente destaco o ‘apenas’, pois de fato, a regra das filmagens e fotos foi seguida à risca, e quando alguém tentava fazer algum registro, o de imagens, os fiscais e seguranças prontamente metiam um facho de luz na cara do cidadão; apesar disso, usar o celular para ver o WhatsApp e redes sociais não era impedido, desde que não apontassem o aparelho para frente.

Intervalo de descanso dá fôlego, mas estranha:

Curioso foi o intervalo de quinze minutos cronometrados entre a primeira e segunda parte do show, que muitos saíram de seus lugares para comprar uma bebida, uma comida e fumar um cigarro. Intervalo interessante, aliás, que deixou um show tão intenso, mais leve,, pois pudemos relaxar um pouco.

Segundo ato não difere muito do primeiro, e o final dá sensação de querer mais:

Após o grande e maior clássico da banda, ‘Aqualung’ terminar, no telão apareceu a mensagem que, naquele momento, passavam a ser permitidos registros fotográficos e filmagem. E com isso, tocaram a última música, e a banda despediu-se, deixando no coração de todos uma sensação de show histórico, e algo que com certeza valeu a pena, apesar da nostalgia dos saudosistas não ser atendida.

Set 1:

My Sunday Feeling
We Used to Know
Heavy Horses
Weathercock
Roots to Branches
Holly Herald
Wolf Unchained
Mine Is the Mountain
Bourrée in E minor

Set 2:

Farm on the Freeway
The Navigators
Warm Sporran
Mrs Tibbets
Dark Ages
Aquadiddley
Aqualung

Bis:
Locomotive Breath

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About Guilmer da Costa Silva

Movido pela raiva ao capital. Todo o poder ao proletariado!

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