Em aquecimento para o Knotfest, Trivium entrega uma noite de peso e técnica em São Paulo

Texto: Bruno Santos

Quarta-feira, noite calorenta em São Paulo. Pontualmente às 21:00, foi realizada a abertura para o público geral. Não demorou muito para que a pista e o camarote da casa enchessem. Filas se formaram na barraca de merch e no bar. Escolhida para sediar o espetáculo, o Cine Joia está localizado no bairro da Liberdade, conhecido por abranger a cultura japonesa como um todo. Uma escolha que coincide com a atual turnê dos americanos, intitulada de “Deadmen and Dragons”, que por sua vez traz no cartaz de divulgação dragões e samurais com traços tradicionais orientais em sua arte. 

Atração da primeira edição brasileira do Knotfest, festival liderado pelo Slipknot, o Trivium é um dos maiores nomes do Metalcore mundial. Na ativa há cerca de 23 anos, a banda está em turnê para a divulgação de seu décimo álbum de estúdio, intitulado “In the Court of the Dragon”, lançado em 2021. Atualmente, a banda é formada por Matt Heafy (guitarra/vocal), Corey Beaulieu (guirra/backing vocals), Paolo Gregoletto (baixo/backing vocals) e Alex Brent (bateria).

Como de costume, durante a entrada do público e os preparativos finais do show, rolou uma discotecagem com músicas de diversas bandas de metal como Crypta, Mastodon, Judas Priest, Cannibal Corpse e Suicide Silence. A cada minuto que passava, o anseio dos fãs aumentava. Não é para menos, pois, a banda levou dez anos para fazer um retorno em nosso país. E devo dizer que atraiu um público diversificado, como pude avistar em camisetas de Black e Death Metal. 

A música para e as luzes se apagam. A introdução de “IX” toca enquanto os músicos sobem ao palco, ovacionados pelo público, aos gritos de “Trivium! Trivium! Trivium!”. Executando os segundos finais com um instrumental impecável e sem pausa para respirar, o show se inicia com “What the Dead Men Say”, faixa título do álbum de estúdio lançado em 2020. Cantando em alto e bom som, o público mostra o quão estão empolgados e cheios de energia para essa noite tão aguardada. 

Matt Heafy é muito carismático, interagindo a todo o momento com o público. “Boa noite! Eai? Nós somos o Trivium!” – diz o vocalista, impressionando com sua ótima pronúncia em nosso idioma. Um fã atira ao palco uma camisa do Flamengo, o aclamado time carioca. Muitos dos fãs paulistas vaiam imediatamente, deixando o frontman um tanto confuso, mas sem deixar de participar da brincadeira. “Down from the Sky”, do álbum “Shogun” de 2008, vem na sequência, como uma “balada”, mas não tão balada assim. De início temos de fato, uma calmaria, mas gradativamente a música vai se erguendo em peso, com guturais e instrumentais caricatos do Metalcore. O ex Machine Head, Corey Beaulieu assume os vocais em boa parte da música, mostrando sua competência na posição de vocalista principal.

Linhas de guitarra rasgadas em conjunto com muita rapidez e precisão na bateria, dão início a faixa título do álbum de 2017, “The Sin and the Sentence”.  A banda apresenta toda sua competência e habilidade técnica, com uma diversidade de ritmos que se unem e dão resultado a uma composição que abrange muitas influências musicais. Vale citar que o mesmo pode ser visto no projeto solo do frontman Matt, batizado de “IBARAKI”, que conta com participações de outros músicos do metal.  

Sem dúvidas, um dos pontos mais emocionantes se deu quando tocaram “Until the World Goes Cold”. Faixa do álbum “Silence in the Snow”, de 2015, arrancou lágrimas e sorrisos de muitos fãs presentes na casa, que cantavam as frases e o refrão com a alma, em perfeita sincronia com a banda, que por sua vez, acertou em cheio na inclusão da música no setlist, proporcionando um momento único e muito bonito de ser presenciar. Após o término, com pouco tempo para se recuperar das emoções, agradando os fãs de longa data, “A Gunshot to the Head of Trepidation” é a primeira música da noite que homenageia o trabalho feito no clássico álbum “Ascendancy”, de 2005, considerado por muitos, o melhor da banda. Aqui nós vimos todas as características que consolidaram a identidade do Trivium ao longo dos anos e que até hoje, são utilizadas em estúdio: versatilidade, peso, melodias, técnica e muita precisão. Na minha opinião, essa sequência foi o ponto de clímax do show. 

Mais um presente é jogado ao palco. Dessa vez, a bandeira de nosso país, com a escrita “Trivium Brasil”, fã-clube oficial da banda. Corey pega imediatamente e a estende em cima do cabeçote de seu amplificador. Matt faz um discurso sobre a demora de seu retorno em nossas terras e que comer feijoada e beber caipirinha foram uma das primeiras coisas que fez em sua primeira vez por aqui. Também comentou sobre gostar de futebol, sobre sua prática e paixão pelo Jiu-Jitsu e de seu interesse e gosto por bandas de Metal nacionais e até mesmo o interesse e admiração por Bossa Nova. Por fim, revelou estar envolvido no desenvolvimento de um game com elementos de nossa cultura. 

Atendendo um pedido pendente desde sua primeira passagem por São Paulo, “Forsake Not the Dream” vem como uma grande surpresa, levando em consideração que não é inclusa com frequência nos setlists da banda. Intensa e matadora do início ao fim, fez com que uma grande roda se abrisse no meio da pista. Em um ato de misericórdia momentâneo, “The Shadow of the Abattoir” acalma a fúria da plateia. Mas como disse, algo passageiro, que em poucos minutos se intensifica e “vira a chave”, fazendo com que o pessoal do mosh abra uma roda novamente, que só se fecha no encerramento da música. É incrível como o quarteto tem o público nas mãos a todo momento do show. Vale citar que essa sequência nos apresentou toda a versatilidade que os músicos têm em orquestrar diversas técnicas vocais e instrumentais. Matt agradece de coração e diz que a energia está matadora.

“X” é executada, dando início ao segundo ato do show. Essa introdução traz uma atmosfera de suspense, que gradativamente anuncia algo épico que está por vir. “In the Court of the Dragon”, música que traz elementos enraizados do Metalcore e influências de Thrash/Death Metal e Hardcore, agita todos da casa, que pulam e cantam em perfeita sincronia. O baterista Alex Brent executa blast beats de forma precisa e contínua, seguindo um instrumental intenso, ambos atrelados a frases de um vocal melódico que soa um tanto “sereno”. Um Wall of Death é aberto a pedido de Matt e mostra como os fãs ainda tem muito gás para a apresentação. “Catastrophist” vem na sequência e quebra o clima de destruição, trazendo um ar de festa com seu ritmo um tanto dançante e um refrão épico, mas que, abruptamente muda de rumo e as guitarras de sete cordas em afinação baixa nos apresentam riffs graves e densos. 

O frontman anuncia que a banda irá se apresentar na Argentina no dia seguinte e como já era de se esperar, os fãs brasileiros vaiam assim que escutam o nome do país rival. Tal atitude só fez com que Matt aproveitasse a situação e desafiasse a crowd para uma “batalha”: Brasil x Argentina, em disputa por quem representa mais em uma bate cabeça. “To the Rats”, single do álbum “The Crusade”, de 2006 dá início a competição. Com forte influência do Thrash Metal, a música faz o público ovacionar o quarteto. A roda se abre na pista, com o pessoal representando nosso país. Clássico é clássico, e aqui não pôde ser diferente. A performance foi impecável, com total precisão e muito peso do começo ao fim. Certamente, muitos ali presentes foram trabalhar na quinta-feira com fortes dores no pescoço de tanto banguear. E os participantes do mosh? Bom, sem dúvidas, com muitas dores no corpo. “The Heart from Your Hate” vem como mais um ato de misericórdia. Melódica, com alguns elementos de Hard Rock atrelados ao Metalcore, pudemos recuperar o fôlego para o que estava por vir na sequência.

A plateia grita por “Shogun” e sem mais nem menos, a banda atende o pedido, levando todos à loucura. Faixa título do quarto álbum de estúdio do grupo, a música é uma verdadeira obra que nos apresenta a identidade do Trivium, toda sua versatilidade e essência que os fez evoluir e amadurecer nos trabalhos seguintes e os fez conquistar a posição de uma das maiores bandas de metal que existem. Aos fãs de longa data e aos mais familiarizados com a música como um todo, os onze minutos seguintes foram memoráveis, inesquecíveis. 

Dando início ao encore da noite, “Strife”, do álbum “Vengeance Falls” de 2013 é marcada pela progressividade, embora não deixe de ter elementos modernos que estão presentes nas demais canções do grupo. Em certo ponto da música, os fãs gritaram por “hey! Hey! Hey!” em sincronia com um riff melódico e épico, antecedendo um dueto de solos de guitarra impecável. Matt novamente cita sua admiração por bandas nacionais e, junto do baterista Alex, dão uma palhinha de “Slave New World” do Sepultura e “Kings of Killing” do Krisiun. Na sequência, os fãs são novamente presenteados com um clássico: “Pull Harder on the Stings of Your Martyr”, música que mostra como a banda fez um excelente trabalho em seu primeiro lançamento pela Roadrunner Records. Sem dúvidas, um dos momentos mais emocionantes e nostálgicos da noite. 

A atmosfera do ambiente muda, quando “Capsizing the Sea” é executada. Uma introdução crua e sombria, tocada por um piano que parece ter vindo de um filme de terror dos anos 80, acompanhado de um baixo com distorção suja, baquetadas alternadas e uma guitarra de fundo, dando base a esse instrumental sinistro. Muitos fãs se agacham no chão, já sabendo o que está por vir.

“In Waves” é anunciada e todos saem do chão, pulando enquanto cantam. A faixa título do álbum de 2011, encerra a noite. Escolha certeira, a música adota um “visual” utilizado por toda a trajetória do grupo. Progressiva, moderna, épica e claro, de muito peso. O trio responsável pelas cordas e vocais clean/guturais do grupo apresenta todas suas habilidades e técnicas nessa música, em momentos de peso e melodias. Tendo em mente o setlist repleto de variações que foi executado, aqui tivemos a prova de que os músicos estavam afiados do início ao fim. 

Mesmo em uma quarta-feira, após a correria do dia a dia, o Trivium conseguiu atrair um grande público para o seu show. Apresentação memorável, com músicas de toda sua trajetória, despertaram uma energia matadora em seus fãs. Uma banda íntegra, com identidade consolidada e fiel às suas influências, executou um verdadeiro espetáculo, digno de estar presente no line up de um grande festival como o Knotfest. Estava nitidamente exposto nos rostos dos músicos a felicidade em retornar ao Brasil com um público que os ovacionaram. Sem dúvidas, assim como nós, fãs, o quarteto anseia por um retorno num futuro próximo.

Setlist:

  • IX
  • What the Dead Men Say
  • Down From the Sky
  • The Sin and the Sentence
  • Until the World Goes Cold
  • A Gunshot to the Head of Trepidation
  • Forsake Not the Dream
  • The Shadow of the Abattoir
  • X
  • In the Court of the Dragon
  • Catastrophist
  • To the Rats
  • The Heart From Your Hate
  • Shogun
  • Strife
  • Pull Harder on the Strings of Your Martyr
  • Capsizing the Sea
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About Bruno Santos

O amor pela música nasceu na minha infância e ir em shows é uma de minhas maiores paixões. Também sou um grande fã de games e da cultura geek.

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