Para público apaixonado, Opeth e Savatage prolongam a festa iniciada no Monsters of Rock criando memórias inesquecíveis com fãs.
Fotos por Gustavo Diakov
Quando o anúncio da edição comemorativa dos 30 anos do Monsters of Rock foi anunciado, duas coisas chamaram a atenção de parte do público: A primeira, o Opeth. Os suecos, apesar de sua inquestionável importância dentro do cenário da música pesada mundial, não se encaixavam nos “padrões” costumeiros que o festival sempre aplicou na montagem de seu lineup. A segunda, a surpresa do retorno do Savatage aos palcos depois de dez anos de sua histórica apresentação de reunião no Wacken Open Air.
Apesar de surpreendente, a escalação destas bandas estava longe de ser algo ruim. Porém, os fãs apaixonados destes nomes sabiam que no festival, nenhum deles teria o tempo de show desejado. Esse problema foi sanado quando as duas bandas foram escaladas para um sideshow do festival no Espaço Unimed no feriado de Tiradentes, fazendo a alegria de seus seguidores. A promessa das bandas terem a oportunidade de apresentar dois shows completos com suas novas turnês encheram os olhos dos mais apaixonados pela “dupla surpresa” do Monsters of Rock.

Em grande fase, Opeth foca em clássicos para agradar novos e antigos fãs
O Opeth ficou responsável por abrir a noite. A banda vive uma ótima fase. A entrada do excelente baterista Waltteri Väyrynen (Ex Paradise Lost e Bloodbath) somado com o muitíssimo elogiado novo álbum do grupo, The Last Will and Testament, de 2024, elevaram o patamar da noite do feriado de segunda-feira.
Com duração de uma hora e meia, o show apresentado não foi o mesmo da turnê europeia. Com apenas uma música a mais do que o show do Monsters, a “§7” , três músicas que estavam no setlist da turnê foram retiradas, sendo elas “Häxprocess”, “The Night and the Silent Water” e “A Story Never Told”.

A decepção dos fãs mais assíduos da banda com a retirada destas músicas se justifica pois estas não são costumeiras nos setlists do grupo. Os fãs brasileiros, logo, estavam na torcida para poder assisti-las ao vivo neste sideshow. Porém, os suecos quiseram manter um setlist “seguro”, já que sabiam que nem todos dos presentes estavam ali para vê-los.
No feriado de Tiradentes, o vocalista e guitarrista Mikael Akerfeldt teve um tempo a mais para se aventurar em suas costumeiras e divertidas conversas com o público, inclusive comentando que os guturais da banda poderiam parecer ruim para quem não os conhecia.

Junto dele, Fredrik Åkesson (guitarra), Martín Mendéz (baixo) e Joakim Svalberg (teclado) completam o time que entregou uma performance impecável, seja se tratando de trilhas pesadas como “Master’s Apprentices”, “The Leper Affinity” e “Ghost of Perdition”, ou seja durante a melódica “In my Time of Need”, faixa que fez todos cantarem lindamente.
Uma dos principais nomes quando se trata de misturar metal progressivo com death metal, o Opeth hoje é um dos pilares do metal mundial e, não à toa, já carrega um legado invejável. Seu último show no Brasil antes deste retorno, em 2023, durante sua turnê de aniversário, corre nas conversas dos fãs até hoje.
O show de segunda-feira apenas deixou seus ouvintes com um gostinho de quero mais, esperando por um retorno iminente de um grupo que não pára de aumentar sua base de fãs em terras brasileiras, principalmente pelas músicas retiradas do setlist.
Opeth – The Last Will and Testament of Latin America – Espaço Unimed – 21/04/2025
1 – §1
2 – Master’s Apprentices
3 – The Leper Affinity
4 – §7
5 – In my Time of Need
6 – §3
7 – Ghost of Perdition
ENCORE:
8 – Sorceress
9 – Deliverance
Savatage faz história em retorno triunfal e emocionante com seu primeiro show solo em duas décadas
A história do Savatage com o Brasil se inicia em um longínquo 1998. A banda, que estreou em terras tupiniquins em março, retornou em setembro para sua participação na lendária edição do Monsters of Rock de 98. Após isso, o grupo retornou para uma série de shows em 2001, anos antes da pausa na carreira de 2002.
O Savatage se apresentou em 2015 com um show especial de retorno junto ao Trans-Siberian Orchestra no imponente Wacken Open Air. A apresentação foi histórica e apenas demonstrou que a banda ainda tinha muita lenha para queimar, mesmo com as limitações que Jon Oliva já apresentava no palco.

Dez anos depois da apresentação pontual, o Savatage anunciou sua primeira turnê em vinte e três anos. E, para nossa sorte, o pontapé inicial foi aqui no Brasil. Em entrevistas, Jon Oliva afirmou que era importante para eles que esse retorno aos palcos iniciasse no Brasil, em especial no Monsters of Rock.
Porém, a alegria dos fãs só foi de fato completa quando ocorreu o anúncio do show solo. Ali, sim, teríamos um vislumbre do verdadeiro retorno da banda, única data solo na América Latina e uma das poucas fora de festivais nesta turnê.

Enquanto no festival do sábado de Aleluia os americanos apresentaram doze músicas, os que estiveram presentes na última segunda-feira puderam presenciar vinte músicas em um show hipnotizante.
Todas as faixas apresentadas no festival também estiveram presentes no show solo, incluindo a repetição da abertura com “The Ocean”, “Welcome” e “Jesus Saves”, já fazendo o público cantar a plenos pulmões junto com Zak Stevens, assumindo todos os vocais principais das músicas dada a ausência de Jon Oliva. O “Mountain King” está afastado dos palcos devido a problemas de saúde, mas participou de todo o processo de retorno da banda e também das faixas inéditas prometidas para um futuro próximo.

A dupla de guitarras composta por Al Pitrelli (ex Megadeth) e Chris Caffery carregam o legado de Chris Oliva, membro fundador da banda, falecido em 1993. Caffery esbanja simpatia e presença de palco, sempre interagindo com os fãs e deixando estampado em seu rosto a alegria contagiante em retornar aos palcos com o grupo. Mais contido, Al demonstra toda sua técnica refinada durante o show, com destaque para seu solo durante “The Storm”.
A cozinha do grupo, composta por Jeff Plates (bateria) e Johnny Lee Middleton (baixo), mostram no “menos é mais” a importância de uma parte rítmica sólida para que todo o resto da música brilhe. Completam o time a dupla de tecladistas Paulo Cuevas e Shawn McNair, músicos contratados para auxiliar o grupo nas teclas e vocais na falta de Jon Oliva.
O setlist passeou por praticamente toda a discografia do Savatage, com apenas os discos Poets and Madmen e o esquecido Fight for the Rock sem representantes. Grandes épicos como “Chance”, “The Hourglass” e “Gutter Ballet” foram intercalados com as pesadas “Taunting Cobras”, “Another Way”, “Turns to Me” e “Edge of Thorns”, alegrando apresentando as várias facetas da banda.

Por outro lado, era nas baladas, um dos pontos fortes da banda, que as lágrimas corriam pelo rosto dos fãs mais emocionados. A letra de “This is the Time” nunca fez tanto sentido em meio à reunião do grupo, emocionando sem esforço. Repetindo a surpresa que aconteceu no Monsters of Rock durante “Believe”, a banda colocou nos telões um vídeo de Jon Oliva tocando piano e cantando a primeira estrofe da música, além de dividir virtualmente os vocais com Zak no refrão final. Era impossível encontrar uma única alma presente que não estivesse emocionada neste momento.
Durante toda a noite, o Espaço Unimed estava bem longe de sua lotação, mesmo antes do Opeth começar. Muitos foram embora após a apresentação dos suecos, ou até mesmo após o início do show do Savatage, sem esperar até a conclusão da apresentação.

Contudo, os que ficaram para o show do Savatage presenciaram a história sendo feita no palco do Espaço Unimed no primeiro show solo da banda em mais de vinte anos. Tecnicamente perfeito e cheio de emoção, a banda provou que tem tudo para seguir o legado iniciado pelos irmãos Oliva.
Para muitos fãs, aquela era a oportunidade de um reencontro com sua banda do coração. Para outros tantos, era a realização de um sonho que viveu por anos no imaginário. A comoção era geral. De forma pessoal, este que vos escreve está agora revisitando todas as memórias desse dia e, em prantos, luto para que consiga transformar em palavras uma emoção que só a música nos dá. Chorando, tento traduzir para você, caro amigo leitor, o tamanho da emoção de poder viver no mesmo tempo que sua banda favorita.
Nos resta a torcida para que o retorno do grupo seja duradouro o suficiente para podermos presenciar novamente Jon Oliva se juntar à banda mais uma vez. E nunca é cedo demais para pedir por um retorno ao Brasil.
Savatage – Espaço Unimed – 21/04/2025
1 – The Ocean
2 – Welcome
3 – Jesus Saves
4 – Sirens
5 – Another Way
6 – The Wake of Magellan
7 – Strange Wings
8 – Taunting Cobras
9 – Turns to Me
10 – Dead Winter Dead
11 – The Storm
12 – Handful of Rain
13 – Chance
14 – This is the Time
15 – Gutter Ballet
16 – Edge of Thorns
17 – The Hourglass
18 – Believe
ENCORE:
19 – Power of the Night
20 – Hall of the Mountain King