O festival, que aconteceu no final de de outubro, trouxe bandas novas e referências do movimento hardcore nacional.
Texto: Thais Araujo
Fotos: Beatriz Ferrari
Agradecimentos: Tedesco Comunicação & Mídia / Agencia Sobcontrole
No último domingo, (28), aconteceu a segunda edição do Insane Music Festival, com o propósito de reunir as bandas clássicas e em ascensão do cenário punk e hardcore do Brasil.
Lotando o Carioca Club (São Paulo), em pleno domingo, que amanheceu com sol, mas logo pela tarde teve uma virada de tempo brusca. Somando aproximadamente 1.200 ingressos vendidos, segundo a direção do local, o que não faltou ao público foram as bandas que fizeram jus ao nome do festival.
O line-up, composto por 8 bandas, fez questão de trazer em peso nomes que se consagraram na cena da música marginalizada. O festival também foi responsável por marcar o retorno épico da banda capixaba Mukeka di Rato, que volta aos palcos após um hiato de cinco anos para celebrar o lançamento de seu novo disco Boiada Suicida.
O retorno do Mukeka di Rato aos palcos
O marco do festival se deu no momento em que anunciaram a entrada do Mukeka di Rato no palco, considerada uma das maiores bandas do hardcore nacional. A volta da do Mukeka é marcado como crucial e necessário para o gênero.
A banda atual é formanda pelo novo vocalista, Fepaschoal (voz, guitarra), Paulista (guitarra) Mozine (baixo) e Brek (bateria). O décimo álbum lançado e o mais recente álbum da banda, Boiada Suicida, é marcado por letras reflexivas e a críticas ao cenário político do país, negligenciado pelo governo atual.
A galera na pista estava ansiosa pelo show, muitos se aquecendo, outros na grade pedindo que entrasse logo. Um som de berrante começou a tocar dando a largada do espetáculo, recebidos por uma gritaria insana ao abrir das cortinas. Os caras simplesmente tomaram conta do palco, com sorrisos e tranquilidade em levar a galera a loucura.
Segue o setlist da banda:
Representatividade feminina e LBGQIA+
The Mönic
A banda responsável pela abertura do festival deu a largada no evento. Escancarando a bandeira do orgulho LGBTQIA+, a banda é composta por Dani Buarque (voz e guitarra), Ale Labelle (voz e guitarra), Joan Bedin (voz e baixo) e Thiago Coiote (bateria). O grupo encarnava a energia do Rock n’ Roll com uma qualidade sonora surreal e riffs que remetem à potência das bandas do revolucionário movimento Riot Grrrl.
Como todo começo de evento em que as principais bandas estarão no final do lineup, é difícil que o evento esteja lotado. Mas, o público presente prestigiou o rock de garagem excelente apresentado pela banda. Tocaram na íntegra lançamentos que virão em seus próximos trabalhos, como a música “Bateu”.
A vocalista Dani Buarque aproveitou a deixa e comentou sobre a abertura de espaço para mulheres, negros e LGBTQIA+ nos eventos hardcore. Com exatos 33 minutos de show conseguiram registrar a potência do seu som, além de contar com uma breve participação do (Rafa), guitarrista do Far From Alaska.
Ravel
A segunda banda do dia, chamou a atenção da galera espalhada pelo evento, trazendo no seu som a mistura do hardcore com metal e classic rock, além de letras bem positivas e reflexivas acerca da vida.
A banda está na ativa desde 2015 e também conta com uma integrante mulher, Jessy Alberola (bateria). Além do Eduardo Costa (voz), Kai Rodrigo (guitarra), Fábio Chexx (baixo) e Rafael Ribas (guitarra).
Pano Cinza, lançamento mais recente da banda, foi a terceira música do setlist, responsável por trazer a intensidade sonora e marcando o ápice da banda no palco, deixando um gostinho do que está por vir nos próximos lançamentos. A música Meu Mantra, foi outra bem recebida e fez com os fãs ocupassem a pista, garantindo um final de show espetacular, finalizado pelo grito “Fora Bolsonaro!”, puxado por Eduardo Costa, vocalista da banda.
O verdadeiro significado de peso
Bayside Kings
Com mais de 10 anos de carreira, a banda da baixada santista Bayside Kings, lançou, no ano passado, seu novo EP Existência. Cantado totalmente em português, com o propósito de estreitar a relação com os fãs e passar totalmente a mensagem de suas letras.
A presença da banda intimidou até quem aparentemente não conhecia o som dos caras, pedindo para que geral colasse próximo do palco.
Com músicas cantadas em inglês e em português, a abertura do show foi responsável pelo primeiro mosh pit do festival.
O vocal da banda, Milton Aguiar, perguntou ao público se eles realmente estavam em um show de Hardcore, e pediu que dessem quatro passos à frente quem queria o Bolsonaro fora do governo. Praticamente, toda a pista se colocou a frente.
Mas não durou muito tempo para a pista ser dividida, do meio para frente uma roda gigantesca se abriu e do meio para trás o restante do público ficou agitando e curtindo o som da banda. Um fã subiu no palco, cantou um trecho da música e se jogou no público, que acabou influenciando outras dezenas de pessoas que também subiram no palco, carregados pelas pessoas na pista.
Com letras antifascistas, entregou um misto de reflexão e expressão em resposta as provocações feitas pelas músicas. Assim, a banda se consagrou no evento com um instrumental ultra rápido, mesclando harmonia e melodia, a galera foi convidada a afundar no som a todo instante.
Surra
O primeiro e único Power Trio de trashcore do festival, Surra surpreendeu dando continuidade à potência sonora da banda anterior, trazendo letras cantadas de formas extremamente rápidas.
Léeo Mesquita (Guitarra/Vocal), Victor Miranda (Bateria) e Guilherme Elias (Baixo/Vocal)
A banda é composta por Léo Mesquisa (guitarra/vocal), Victor Miranda (bateria) e Guilherme Elias (baixo/vocal) e entregaram um instrumental hiper frenético, a banda santista é referência na cena e uma das únicas do evento que misturam elementos do Metal com Hardcore, num frenesi de agitação e peso constante. Com um setlist que não permitia tempo para pausas, a galera não teve descanso na pista.
“São exatos 17:23, quando eu estudava, era o horário em que saímos da sala para encher o cu de merenda!”. A música “Merenda” do álbum Bica na Cara, de 2012, foi um dos pontos altos da apresentação da banda.
Legado e musicalidade
Matanza Inc
Com integrantes da última formação original da banda anterior, Marco Donita (guitarra), Dony Escobar (baixo), Jornas Cáffaro (bateria). Agora contam com um novo vocalista, Vital Cavalcante, que apesar de lembrar a voz icônica do Jimmy London (antigo vocalista do Matanza), o som se manteve forte, bem instrumentalizado e com uma nova energia.
Apesar de o palco voltar a encher, a agitação foi bem menor que comparada às bandas anteriores. Os fãs fiéis e visivelmente mais velho cantaram e agitaram durante todo o show. Apesar de não cantarem as clássicas da banda, compensaram com Sabendo Que Posso Morrer. Os membros conversaram com o público e também expressaram esperança em relação à cena hardcore no país, e elogiaram as demais bandas presentes.
Garage Fuzz
Com mais de 30 anos de carreira e um legado, o Carioca Club ficou pequeno para o Garage Fuzz. Uma das bandas mais esperadas do festival, iniciou o show com uma recepção calorosa do público.Fãs de todas as idades simplesmente não tiravam os olhos dos veteranos Nando Basseto, Fabricio de souza e Daniel Siqueira.
O mais recente integrante da banda, Vitor Francisco (Ex- Bullet Bane), se tornou o vocalista em 2021 e já conquistou seu espaço com os fãs. Sua animação em cima do palco foi contagiante.
Com a casa cheia e o público cantando junto, arrancou do vocalista a seguinte frase: “Caralho, isso tá foda pra caralho!”. Não consigo deixar de expressar que show transmitiu uma vibe bem praiana, com músicas que possuem grande influência do rock californiano, o Garage Fuzz é uma ótima indicação para quem quer tirar uma onda e, principalmente, conhecer o gênero Garage Rock.
A música Elephante, do EP “Let The Chips Fall”, foi uma das mais agitadas no show, com fãs subindo no palco e se jogando no público. Essa é uma faixa mais recente da banda, com o Vitor no vocal. A banda finalizou o show com pedido de mais músicas.
Dead Fish
E para finalizar com chave de ouro a conceituada banda de hardcore Dead Fish encerrou o evento. Trouxe grandes clássicos da banda e garantiu que o festival terminasse de forma inesquecivel.
A banda leva uma legião de fãs em todos os shows que fazem, independente do local, e não seria diferente. Teve gente chegando na casa praticamente quando a banda começou a tocar suas músicas.
O show foi marcado pela grande presença do vocalista Rodrigo Lima, que agradeceu a oportunidade de presenciar o Mukeka di rato e relembrar os anos 90 na presença dos caras. Mais um que aproveitou a deixa para escancarar seu posicionamento político contra o atual.
O Insane Music Festivel cumpriu o que prometeu e reuniu bandas renomadas do gênero, lançamentos novos, bandas novas que precisam de um espaço e serem vistas. Com animação e vontade de fazer o que é proposto pelo hardcore, é que o movimento não vai acabar. E eles provaram que não vai mesmo.
Sobre a casa
O ambiente estava equipado com vários ventiladores, que melhorou bastante a ventilação da casa. E elogios à produção do evento que seguiu a risca a programação e todas as bandas entraram no horário.
Na área externa da casa, cerca de 5 expositores estavam vendendo camisetas, boton e adesivos de todas as bandas do festival, de São Paulo e de Curitiba. Camisetas do Dance of Days, Mukeka di Rato, Surra, Ravel, entre outras bandas da cena estavam sendo vendidas com preços tabelados a partir de R$ 50 reais, no final do evento praticamente todos os stands estavam vazios.
Outro ponto positivo foram as opções de comidas no evento, pizza e salgados veganos do stand Coxinha Orgânica, que fizeram sucesso durante os intervalos. E não menos importante, a discotecagem que não pode faltar. Ramones, bad regilion, System of dowm, rage against the machine e muitas outras tocaram nos intervalos do evento.